sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Para o meu filho Manuel

Mesmo os que não têm filhos, mas desejam tê-los, imaginam, a dada altura da vida, como eles seriam ou como gostaríamos que fossem. E, não fôssemos nós, na maioria, egocêntricos e estupendamente conscientes, numa vertente estupidamente positiva, claro está!, daquilo que somos ou nos tornamos, gostamos sempre de acreditar que os filhos sairão à nossa semelhança e medida, com os nossos valores que são, para cada um de nós, os melhores do mundo e arredores. Certos estamos, até!, de que o que não foi bom na forma como fomos educados não está, de forma alguma, geneticamente intrínseco em nós e estamos crentes que vamos conseguir separar o trigo do joio e ensinar SÓ o que é bom e saudável. Acredito que fui bem educada pelos meus pais, pelo menos no que diz respeito à forma como olho para os outros e na representatividade que escolho que esses outros tenham na minha vida. Parece difícil? Tão simples. Não tenho pretensão, aqui, nesta folha, ainda, semi-em-branco, de garatujar uma lista de quais os ensinamentos que aprendi, os quais fiz questão de não olvidar, antes reter para sempre sem dificuldade ou esforço para o meu eu, ainda que esse mesmo eu tenha aprendido que por mais que se faça ou escolha fazer, porque é uma escolha, o retorno não vem na mesma medida. E tudo, tudo, mas mesmo tudo, na vida, tem um retorno. Por isso, meu filho Manuel, espero: Que sejas um menino responsável, ficando reservado o direito de o seres com a tua inocência e/ou sabedoria nas várias fases da tua vida; Que respeites e obedeças às ordens dos mais velhos: pais, tios, avós, irmãos, professores com a consciência de que reside neles a preocupação com o teu bem-estar e formação e que aceites os seus conselhos como caminhos mais sábios para decisões que envolvem o teu futuro; Que ames os teus familiares e faças questão de os cumprimentar, amar, tratar com cordialidade e acarinhar sempre que usufruires da sua companhia não esquecendo que para eles és muito importante e que, por isso, são merecedores das tuas demostrações de atenção, ajuda e amor; Que consideres sempre as diferenças dos outros e não critiques impiedosamente crenças, estados de alma, posiçoes de vida e opiniões divergentes das tuas; Que aprendas a partilhar o que tens, ainda que o consideres pouco, não esquecendo que egoísmo exacerbado e sentimento de posse são comportamentos menos dignos que te trarão dissabores; Que tenhas força , serenidade e sabedoria para fazeres valer os teus direitos e opiniões, consciente dos teus deveres, nunca esquecendo de que não deves fazê-lo a qualquer custo; Que respeites a tua mãe e o teu pai nas suas decisões e preocupações com o teu futuro, e que tenhas consciência , que muito embora não tenhas imagens deles juntos, porque se tentou o que não foi possível, que no momento da tua concepção houve amor incondicional e que o dia do teu nascimento foi um dia bonito e que, por isso, poderás sempre contar com o apoio de ambos na procura do melhor para ti e para a tua vida; Que não julgues os outros pelas suas posses materiais, que entendas que as dificuldades da vida existem, são diversas de pessoa para pessoa, mas que isso não diminui ninguém, torna-nos, apenas, diferentes na sua essência e nas suas experiências; Que aprendas a dar valor ao que tens, consciente de que não poderás ter tudo o que desejas, mas que o essencial terás garantido para o teu bem-estar e desenvolvimento; Que sejas aplicado nos teus afazeres escolares, da tua única responsabilidade, sabendo que podes contar com os mais velhos para toda a ajuda que precises no sentido de poderes cumprir com o que te é pedido e perceberes que a vida escolar não pode ser descurada pois dela depende grande parte do teu sucesso; Que sejas responsável na tua vida profissional cumprindo horários, tarefas, objectivos, respeitando hierarquias com o objectivo de conseguir sempre mais e melhor; Que respeites a pessoa com quem escolheres, um dia, viver, nunca mentindo e não esquecendo, sempre, que quanto mais amares, quanto mais deres de ti, quanto mais cuidares, mais receberás de volta. Mais feliz serás!; Que aprendas a não dar importância ao acessório e compreendas que a vida se faz do essencial e que isso implica sentimento, entrega, disponibilidade, serenidade e bom-senso. Que compreendas que nem tudo é garantido nem acontece como previmos ou desejámos e que isso te ajude a ultrapassar contrariedades de forma estóica e responsável, com capacidade para dar a volta às adversidades, encontrando caminhos alternativos, mas dignos para ti e para quem te rodeia; Meu filho, este texto serve apenas e só para que fique lavrado um testemunho de alguns ensinamentos que espero conseguir transmitir-te, com a humildade suficiente de uma mãe que se compromete a esforçar-se até ao limite, mas com consciência que terás uma identidade própria e que se conseguires, não 100%, mas 50% apenas do que desejo para ti, sairei eu vitoriosa e tu mais feliz. 