sexta-feira, 26 de julho de 2019

Not a blogger

Há coisas que não entendo num blog. Com tudo o que este tem de obrigatoriedade, nos dias de hoje. O espartilho de que tem que ter um certo 'tom' ou ser sobre tema A,B ou C. Quando criei este blog, há muitos anos, foi numa altura em que queria escrever, deliberar, opinar sobre algumas coisas. Foi catártico durante o tempo que teve que ser. Um tempo de solteirice aguda :) em que as horas não escasseavam para tudo o que se queria fazer. Deixei-o adormecido. quieto. parado. morto. Aconteceu tudo no meio dessa mortandade e o agora. Uma paixão arrebatadora. um filho. Este filho. O meu Manuel. O meu filho. Cliché de todas as mães que se prezem e dignas desse nome - 'a minha vida'. Cliché mais bom, este, que respiramos, vivemos, ansiamos. Não há nada que se assemelhe. Aquele segundo em que sai de dentro de ti e te percorre eletricamente a sensação alucinante de que nunca mais estás sozinha e nunca mais terás vontade de viver no fio de faca nenhuma, a expensas de vontades alheias a não ser daquele ser que nasceu de amor em estado puro, visceral, cúmplice, arrebatador, infinito. Engraçada esta coisa de entendermos os nossos pais através dos nossos filhos: as advertências, a preocupação, a ansiedade, o amor próprio que se esvai em amor pelo outro, o nada que se transforma em tudo, o acessório que se evapora no essencial, o medo de não ser suficiente e não saber gerir a familía nuclear esboroada em separação de progenitores e morte do meu pai. O blog ficou cada vez mais longe, mais apagado, a password olvidada, o esgaravatar de uma luta para esquecer a tristeza de que um 'era para sempre' se tornou num acabou. O pavor de não possuir forças para criar um filho sozinha: sem competência, estágio maternal, ou antecâmara de preparação; a ausência de um pai/avô babado que não chega a ver o suficiente de um neto altamente desejado e com um mundo de amor para dar, roubado por um cancro maldito e feroz. Hoje vou reanimá-lo. Encontrei a password. vai ficar em banho-maria. Vou voltar cá. De vez em quando.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Elogio :)

Ola Nica, tudo bem? Espero que nao leves a mal mas prefiro parabenizar-te de uma forma mais pessoal. Porquê? Não sei, mas sei que prefiro.Já nos conhecemos há anos, décadas até e naturalmente a vida leva-nos a seguir os nossos caminhos . Isto do facebook fez-nos voltar a ver pessoal, a reviver momentos e a relembrar pessoas que nos eram queridas , ou nao. Tu és daquelas pessoas que o Facebook me aproximou de uma forma positiva, mesmo que virtualmente . É que eu nutro um carinho especial por ti, gosto de te "seguir", gosto quando fazes um like numa publicação minha, gosto da tua forma de cuidar de ti e do teu filho. Do teu bom gosto, da forma que mostras como lidas com quem te rodeia. És muito boa onda. Moderna e cool . (........) Pronto , já palrei demais, mas disse o que me vai na alma. Se o fizesse no mural podia dar faísca 😛 Assim, quero desejar-te um dia feliz, que o passes da melhor maneira possível e que este dia se repita por muitos e bons anos e que eu possa assistir de cadeirinha 😛 Parabéns pela MENINA que demonstras ser. Parabéns também À Sra Tua MÃE que foi muito assertiva quando vos "engendrou" E agora siga para a Frente. PARABÉNS!! Diverte-te Kiss Kiss...Nica 😊

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Para o meu filho Manuel

Mesmo os que não têm filhos, mas desejam tê-los, imaginam, a dada altura da vida, como eles seriam ou como gostaríamos que fossem. E, não fôssemos nós, na maioria, egocêntricos e estupendamente conscientes, numa vertente estupidamente positiva, claro está!, daquilo que somos ou nos tornamos, gostamos sempre de acreditar que os filhos sairão à nossa semelhança e medida, com os nossos valores que são, para cada um de nós, os melhores do mundo e arredores. Certos estamos, até!, de que o que não foi bom na forma como fomos educados não está, de forma alguma, geneticamente intrínseco em nós e estamos crentes que vamos conseguir separar o trigo do joio e ensinar SÓ o que é bom e saudável. Acredito que fui bem educada pelos meus pais, pelo menos no que diz respeito à forma como olho para os outros e na representatividade que escolho que esses outros tenham na minha vida. Parece difícil? Tão simples. Não tenho pretensão, aqui, nesta folha, ainda, semi-em-branco, de garatujar uma lista de quais os ensinamentos que aprendi, os quais fiz questão de não olvidar, antes reter para sempre sem dificuldade ou esforço para o meu eu, ainda que esse mesmo eu tenha aprendido que por mais que se faça ou escolha fazer, porque é uma escolha, o retorno não vem na mesma medida. E tudo, tudo, mas mesmo tudo, na vida, tem um retorno. Por isso, meu filho Manuel, espero: Que sejas um menino responsável, ficando reservado o direito de o seres com a tua inocência e/ou sabedoria nas várias fases da tua vida; Que respeites e obedeças às ordens dos mais velhos: pais, tios, avós, irmãos, professores com a consciência de que reside neles a preocupação com o teu bem-estar e formação e que aceites os seus conselhos como caminhos mais sábios para decisões que envolvem o teu futuro; Que ames os teus familiares e faças questão de os cumprimentar, amar, tratar com cordialidade e acarinhar sempre que usufruires da sua companhia não esquecendo que para eles és muito importante e que, por isso, são merecedores das tuas demostrações de atenção, ajuda e amor; Que consideres sempre as diferenças dos outros e não critiques impiedosamente crenças, estados de alma, posiçoes de vida e opiniões divergentes das tuas; Que aprendas a partilhar o que tens, ainda que o consideres pouco, não esquecendo que egoísmo exacerbado e sentimento de posse são comportamentos menos dignos que te trarão dissabores; Que tenhas força , serenidade e sabedoria para fazeres valer os teus direitos e opiniões, consciente dos teus deveres, nunca esquecendo de que não deves fazê-lo a qualquer custo; Que respeites a tua mãe e o teu pai nas suas decisões e preocupações com o teu futuro, e que tenhas consciência , que muito embora não tenhas imagens deles juntos, porque se tentou o que não foi possível, que no momento da tua concepção houve amor incondicional e que o dia do teu nascimento foi um dia bonito e que, por isso, poderás sempre contar com o apoio de ambos na procura do melhor para ti e para a tua vida; Que não julgues os outros pelas suas posses materiais, que entendas que as dificuldades da vida existem, são diversas de pessoa para pessoa, mas que isso não diminui ninguém, torna-nos, apenas, diferentes na sua essência e nas suas experiências; Que aprendas a dar valor ao que tens, consciente de que não poderás ter tudo o que desejas, mas que o essencial terás garantido para o teu bem-estar e desenvolvimento; Que sejas aplicado nos teus afazeres escolares, da tua única responsabilidade, sabendo que podes contar com os mais velhos para toda a ajuda que precises no sentido de poderes cumprir com o que te é pedido e perceberes que a vida escolar não pode ser descurada pois dela depende grande parte do teu sucesso; Que sejas responsável na tua vida profissional cumprindo horários, tarefas, objectivos, respeitando hierarquias com o objectivo de conseguir sempre mais e melhor; Que respeites a pessoa com quem escolheres, um dia, viver, nunca mentindo e não esquecendo, sempre, que quanto mais amares, quanto mais deres de ti, quanto mais cuidares, mais receberás de volta. Mais feliz serás!; Que aprendas a não dar importância ao acessório e compreendas que a vida se faz do essencial e que isso implica sentimento, entrega, disponibilidade, serenidade e bom-senso. Que compreendas que nem tudo é garantido nem acontece como previmos ou desejámos e que isso te ajude a ultrapassar contrariedades de forma estóica e responsável, com capacidade para dar a volta às adversidades, encontrando caminhos alternativos, mas dignos para ti e para quem te rodeia; Meu filho, este texto serve apenas e só para que fique lavrado um testemunho de alguns ensinamentos que espero conseguir transmitir-te, com a humildade suficiente de uma mãe que se compromete a esforçar-se até ao limite, mas com consciência que terás uma identidade própria e que se conseguires, não 100%, mas 50% apenas do que desejo para ti, sairei eu vitoriosa e tu mais feliz. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Perdoa-se o ‘não quero vida contigo’
Perdoa-se o ‘não gosto de ti’
Não se perdoa o egoísmo do ‘não me fazes feliz’.
Não se perdoa o total ‘abandono’, qual papel amarrotado, atirado ao chão e calcado, vezes sem conta.
Não se perdoa o ultrapassar coisas sérias de mãos nos bolsos e pernas às costas.
Não se perdoa o desinteresse; a falta de tempo, de disponibilidade, de recursos, de trato, de estima, de respeito, de ponderação, de reconhecimento, de diálogo.
Não se perdoa a falha no estabelecimento de prioridades entre seres com igual representatividade em plano paralelo.
Não se perdoa nem esquece o desgosto, a mágoa, a forma ‘easy-going’ de substituir coisas por pessoas e pessoas por pessoas.
Não se perdoa o não reconhecimento de falhas e o responsabilizarmos os outros por essas mesmas falhas.
Não se perdoa a mentira acerca do que fomos, somos e seremos.
Não se perdoa sermos levados a acreditar que importavamos na vida de alguém.
Não se perdoa que um filho sirva para o que não deve servir.
Não se perdoa a conivência com o ‘mau-trato’ dos outros.
Não se perdoa a subtracção de tempo com um filho.
Isso? ? Não se perdoa...mesmo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Vida nova

Há coisas para as quais não nos preparamos. A vida, inesperada, faz isso por nós. Depois da alegria de um filho, as diferenças. No emprego muda tudo: a função, os prémios, o ordenado.

Descontado o carro que ainda se paga, prémio não ganho: final do mês € 583.13 transferidos para a conta bancária. € 367.20 de seguro do veículo para pagar. Casa alugada: vida vasculhada de trás para a frente, reuniões com construtores, o recibo de vencimento na mão e a pergunta ‘Com aquilo que ganha, acha que consegue pagar uma casa?’, fiadores ao ‘barulho’, a vontade de chorar, dois meses de renda adiantados, meia dúzia de bens absolutamente necessários comprados, o mealheiro de um filho assaltado, que se enchia desde que nasceu e engordava a conta bancária para um dia mais tarde - destinado a comprar um sofá (e a vontade de chorar outra vez).

Foi-se o calcanhar de meia poupado sem grandes sacrifícios, outrora. Vacinas, leite, papas, 80 € em fraldas para aproveitar promoções e talões (virei uma típica dona de casa americana atenta a tudo o que se compra com cupões e descontos) – dia 12 – saldo bancário € 2.07.
Subsídio de férias já hipotecado. Nem te atrevas a chorar, engole o choro, faz-te mulher!

Faz listas. E mais listas. O que ainda falta comprar? O que posso comprar? Estabelece
prioridades. Um mês isto, outro mês aquilo. O que faz falta. SÓ o que faz falta.

Esquece o tempo das roupas e carteiras de marca, dos cremes para a cara, dos perfumes,dos sapatos, do charme, dos restaurantes, das lojas que gostas, dos dentistas e médicos com frequência. Centra-te no básico. A vida muda. A tua e a do teu filho mudou. Conhecida esta realidade e não outra qualquer para ele dá no mesmo. ‘Comida não vai faltar’ é o que ouves dizer.

Ouvi muito uma música enquanto estava grávida da minha banda favorita, DMB, whatelse?
(tão predestinadora!):

"Work our souls, fingers to the bones, cut the marrow, drain my soul,

Pay your dues and your debts, pay your respects,

Everybody tells you, you pay for what you get, you pay for what you get…"

terça-feira, 13 de março de 2012

Didn’t see it...

Podemos viver na borda de um precipício e...ainda assim...não predestinarmos, não só o empurrão, mas a brutal queda para a qual sempre estivemos destinados. Invulgarmente, empurram-nos sozinhos, arrastando connosco pessoas, espaços, sentimentos e coisas às quais vivemos agarrados com a pretensão de nos terem pertencido de forma inequívoca. Queda célere, rápida, mortal, interior, exterior. Preservados achavamos estar por uma bolha de amor fermentada por acontecimentos da vida, marcantes apenas (... )para nós.

Um dia somos amados. Como sempre achámos ter sido. Encostados estávamos já à borda do precipício, desterrados sem conhecimento. Dez dias depois, pesado pé que nos calca, fere e arrasa o melhor de nós para uma queda livre, sem precedentes. ‘Já não te quero!’ Não importa o que pensas, sentes, o que dizes, a cara que fazes, o que imploras, a explicação que pedes, as dúvidas que te assaltam, as lágrimas que choras, os problemas que tenhas, o carinho que imploras. ‘Não quero saber!’ Nunca mais interessa o que foste, o que deste, o que ouviste, o que te prometeram, o que te entregaste, o que viveste, no que acreditaste, nos planos que fizeste, as vezes que tentaste. Não és notada ou reconhecida. Não tens valor. És menos que nada. És má mãe, má mulher, má companheira (a pior), má amante, má dona-de-casa, má pessoa, má-tudo. ‘Não quero ouvir o que dizes, não te posso ouvir.’

E acreditas.
Achas-te tão injustiçada,
mas acreditas.
Apenas porque não entendes como é possível teres sido alvo de tamanho engano, não acreditas que haja pessoas tão corajosas e imprevisíveis assim. Não acreditas. E como no teu mundo não existem pessoas tão vis, a culpa é tua. O mal está em ti. Quem te mandou não vires embora quando tiveste vontade e a borda estava longe? Quem te mandou voltar de cada vez que te pediram e até imploraram? Quem te mandou deixares-te tocar pelo desespero e insegurança dos outros? Quem te mandou acreditar quando te diziam que eras perfeita? Quem te mandou crer que eras a melhor pessoa que se tinha conhecido? Quem te mandou não seres mais bonita, mais obediente, mais ... tudo?

Um dia foste boa. Um dia foste tudo: alma-gémea, o mundo, a companheira de vida, a mãe ideal para filhos futuros e que se queria até para filhos não-teus. A vida não fazia sentido sem ti. Eras necessária, imprescindível, tapavas furos e falhas, acalmavas angústias e medos de separações recentes, de relações parentais estragadas, de situações profissionais impossíveis. Nunca pensando em somar, subtrair ou multiplicar o que estava a ser-te pedido ou retirado, sempre pensando que do amar fazem parte estes requisitos, deveres e obrigações com a consciência de que um dia precisada, um dia paga na mesma moeda.

Inocente criatura.

Não saberia fazer diferente. Peçam-lhe todos os sacrifícios do mundo, mas para amar com reservas, de pé atrás, impedida de pisar terrenos que deviam ser OBRIGATÓRIOS....não sabe.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Motherhood*

(Desabafos de mãe...apenas isso e só isso)

A maternidade é algo para o qual nascemos impreparadas por natureza. Não há manual de instruções em pdf, papel ou outro formato qualquer. Ouvimos conselhos, aulas preparatórias, lemos artigos, panfletos, brochuras e livros para tudo e mais alguma coisa, mas ninguém adverte para este mundo novo. Um filho é um marco: o antes de e o depois de.

Lembro como se fosse hoje, ou não tivesse pouco tempo passado, de entrar na sala de parto, às 21.00h do dia 9 de Agosto, com medo, mas acima de tudo ansiosa, expectante. Três puxóes e apertos mal dados, ventosas usadas, quinze minutos mais tarde conheci aquele pequeno ser cinza-arroxeado pousado em cima da minha barriga. O meu filho. Com a beleza (in)característica de qualquer outro recém-nascido. O meu filho. Levado num ápice para uma saleta contígua, o choro tardio a aliviar uma mãe, a fim de ser limpo de 9 meses de líquidos e similares. Uma eternidade. Enquanto isso, limpa-se sangue de mãe, cose-se o que se abriu, hormonas incontroladas e fluídos desarranjados ficaram, aqui está o bebé: ‘Feito. Estás por tua conta. Desenrasca-te.’

A mudança avassaladora: nunca tinha notado tão forte o medo da morte ou doença, de não estar ali até ao fim ou para quando fosse preciso; nunca antes tinha sentido que tinha alguém dependente de si, a 1000%, que o bem-estar de um ser, parte de si, era da sua lavra; nunca tinha sentido o dever de valer a alguém no choro desconhecido de causa, na doença, na educação, na motivação; nunca antes ponderara o medo iminente de ter que o fazer sozinha.
E a vida nunca mais foi a mesma.

Os primeiros choros por tudo e por nada: por mudar uma fralda, por um banho, por vestir, por despir, por fome, por cólicas, por sono...todos enigmáticos, sem se saber o motivo e sempre a acharmos que é incompetência de mãe-de-primeira-viagem: o rio de lágrimas fácil no canto do olho.
É o mundo das fraldas, dos biberons, tetinas e esterilizadores, da ânsia pelo aparecimento do cocó de um filho, obstinadas que estamos com cor, consistência e frequência!; dos soros, pomadas, cremes e unguentos, do leite e da amamentação....Ahhh...a amamentação que aprendemos ser crucial para a vida, na crença provada de que bebé que amamenta está protegido por uma ‘bolha de imunidade’ para o que der, vier e aparecer. As dores?! Excruciantes, agulhas espetadas nos mamilos em ferida, em cada sucção, arroxeada a mão que aperta a almofada para conter grito e choro...o pavor de passar pelo mesmo, apenas 3 horas depois...E as noites? Nunca dormidas, só dormitadas. A cabeça vazia, oca. Tira a mama para fora, aperta a almofada e reza para que não seja de morrer...só desta vez. Ai as costas, ‘que não tenho posição, que dores e não posso tomar analgésico forte, o amamentar não permite’; muda a fralda, deita no berço. A cabeça não posou na almofada ainda, já ‘dorme’ sem respirar! com medo que até isso acorde o menino! Dez minutos mais tarde, rabujou, acorda, espreita ‘mas o que foi agora?’, tapa as mãozinhas inquietas e geladas, volta a dormir ou o que se parece com isso, o choro, meia hora depois, foi o que lhe pareceu, ‘não! Já passaram 3 horas, mama, outra vez!!’ É com esta cadência que passam os dias: mamar, banho, lava e esteriliza coisas, adormece (ao colo, não quer; passa para o berço , chora,; põe na espreguiçadeira e embala – grita; volta para o colo, embala; os braços dormentes do peso, canta....esgota o repertório, inventa!, que já também a mim me apetece chorar que o meu nome do meio é cansaço!). Já não se lembra a última vez que lavou os dentes (terá sido ontem ou já lavei hoje?), o pijama é a indumentária, o prato do dia....-a-dia, já para não falar de um banho....Ahhhh.... o prazer de um banho quente e demorado. Perdeu conta às vezes que arriscou tamanha façanha e saiu, ensaboada, com medo que a criança abafe num choro convulso, ‘mas porque é que só dorme sonos de passarinho?, quem me dera a mim dormir, dormir...’ . Até o banho é consigo própria negociado! ‘ tinha tempo de tomar agora, mas...e depois?....como seco o cabelo? Ele vai acordar....ai se acorda com um espirro não há-de acordar com o secador?!, mas que merda ainda não terem inventado estas coisas versão rápida e silenciosa! Mas o homem já não andou na lua! Apre! Melhor não lavar. Prende-se hoje, lava-se amanhã, e amanhã, e amanhã....’
Não se sente bonita, cheirosa, limpa como antes, o luxo de um banho-tomado-à-gato ao final do dia a par de cogitar, sequer, numa dejecção que não seja a do filho nascido, borratada a cara com um bocado de pó para disfarçar a pele branco-esverdeada, anti-olheiras e rímel para não parecer desleixada vai ter que servir. E o medo? Continua. O medo de falhar, de não ser good enough, de ficar só, de se sentir só e cansada como se sente agora. E a culpa. Mas só?, porquê? com um filho tão lindo!? Quem disse que a licença de maternidade compreende umas belas férias, merecia ser decapitado! Ansiamos por descanso, companhia, que alguém chegue a casa do trabalho e nos salve, nos mime, nos dê atenção, que nos ‘salve’, todos os dias, com paciência, carinho, amor, que divida tarefas connosco e espante inseguranças para podermos olhar, apenas olhar, o filho que amamos sem ser a correr.
Para uma super-mãe, que só é super antes de o começar a ser (na teoria todas somos) ou algum tempo depois de o ter sido (se é que me entendem), é preciso um super-pai que nos ature....a nós e às nossas merdas de mãe.