segunda-feira, 26 de maio de 2008

Solidão

É verdade que podemos estar cercados de um punhado de dezenas de pessoas e sentirmo-nos, incrivelmente, sós e isolados.
Mascarada e dissimulada de várias formas, figuras, feitios, retalhos e recortes, a solidão aparece furtiva e sorrateiramente, sem nos apercebermos, e instala-se de armas, arreios e bagagens, encostada e envolta em nós como gesso em perna partida ou nó de marinheiro bem ataviado que estrangula, aperta e enlaça o espírito, a consciência e o bem-estar.

Consideramo-nos, quase sempre, inexcedíveis, invencíveis, invictos e insuperáveis. Achamo-nos auto-suficientes e incrivelmente menos dependentes e pertencentes do que os outros. Gostamos de pensar que não precisamos de ninguém e adoptamos uma postura de ilha deserta, sem reconhecermos que seremos SEMPRE península habitada com braço agarrado a terra, assim como feto umbilicalmente preso e dependente da progenitora antes de ter respirado um autónomo bafejo de vida.

Sinto saudades de amar no formato mais completo de nos ligarmos a alguém e matarmos a solidão que morde silenciosa dentro de nós. Quando falo em amar, não falo de amor de amigo ou amor de pai, mãe ou irmã, mas de amor entre homem e mulher. Por muito bem que vivamos a sós, o que queremos mesmo é ter alguém para mimar e com quem partilhar a vida, seja lá tudo o que isso for. A melhor parte de nós é aquela que temos para oferecer sem pensar no receber: é a mais genuína, a mais rica e abonada, a mais autêntica, franca e intrínseca. É o que está incrustado e cravado em cada brecha de nós. É natural, não tem artifício ou aldrabice escondida. Não custa dinheiro, custa apenas entrega pura e absoluta sem lugar para feitios, orgulhos, defeitos, poderios e posses, mesquinhez ou outro rol de sentimentos subalternos homólogos.

domingo, 25 de maio de 2008

Um simples 'gosto de ti'

A vida é uma aprendizagem constante.

Muito próxima dos 31, recordo uma frase que todos conhecem 'Só sei que nada sei'. Viver com sabedoria significa perder a arrogância, insensatez e crença absoluta de que temos muito a ensinar aos outros e nada para aprender com eles.
Algo que me faz sentir diferente das outras pessoas é que aprendi, muito cedo, que o tempo encurta a vida (entre outras coisas) e que temos o dever de dizer aos que gravitam em torno de nós o que sentimos por eles, todos os dias da nossa existência.

Nunca me inibi de dizer 'Gosto de ti', sem pensar, assim, simples! O que me move? Não saber quanto tempo tenho e quantas oportunidades a vida me vai dar para o dizer a quem merece, as vezes que me der na veneta.

De uma forma má, mesquinha, torta e estúpida aprendi que não o devo ou posso fazer quando me apetece. As pessoas, na generalidade, não estão preparados para aceitar ou mesmo retribuir. (De registar que nunca o fiz como um pedido camuflado para que me digam o mesmo, mas posso regozijar-me de ter 'ensinado' algumas pessoas a fazê-lo, a mim e a outros, de uma forma que nunca tinham feito antes). Quando aprendemos a fazê-lo, torna-se um hábito tão natural como bocejar ou espreguiçarmo-nos.

Parece estúpido, mas não deixa de ser uma realidade torta e verdadeira a forma como os que não são da família têm tanta dificuldade em aceitar isto! Porquê?? Não me canso de perguntar....mas sei a resposta. Deram-me a conhecer a resposta. Afinal, um simples 'Gosto de ti' pode originar más interpretações em quem tem o coração fechado e palas nos olhos: significado - não posso dizê-lo a quem é comprometido sob pena de serem interpretadas entrelinhas na mensagem como: investida de cariz carnal ou/e até sexual. ABSURDO E RIDÍCULO.

Isto tudo para dizer que reduzi, infimamente, a 'lista' de pessoas a quem passei a ofertar um inocente, simples e (des)confortante 'Gosto de ti'. Há coisas que é preferível, afinal, guardarmos para nós mesmos. Pensar e não dizer.
Uma lição dura e triste que se aprende de onde menos se espera. Mas aprende-se. Ao invés de renovarmos os votos de amizade e carinho profundos por alguém que achamos merecedor através de um simples 'Gosto de ti', melhor mesmo é não dizermos nada.
É como digo, estamos constante e eternamente a aprender.

Teoria da substituição

Quanto mais tempo passamos próximos de determinadas pessoas, mais facilmente ficamos saudosos de outras de quem nos afastámos sem saber bem porquê.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

É Amor




Namoravam há um mês, mais coisa, menos coisa.
Era sexta-feira e ela tinha um jantar com colegas de trabalho. Ele aproveitou que não podia ter a companhia dela e juntou-se com uns amigos para uma tainada.
Tinham feito um pacto. Porque o tempo parecia sempre pouco para estarem juntos, combinaram encontrar-se em casa dele onde ela iria passar o fim de semana. Há muito que lhe tinha dado uma cópia da chave de casa dele que queria também que fosse dela, para sempre.

Os jantares corriam bem. Entre uma garfada e outra uma sms de amor e um telefonema para matar saudades. As 24 horas do dia eram sempre poucas para o amor que sentiam. Estavam longe, mas arranjavam sempre forma de estarem unidos, assim, por telefone, ainda que o longe fosse a uns meros kms de distância.

Depois do jantar, ela foi a um bar. Dois copos de licor tragados e o cansaço numa combinação com excitação começavam a aflorar-lhe na pele. Decidiu mudar de planos. Em vez de o avisar quando estivesse a caminho de casa dele, conforme acordado, decidiu dizer-lhe só depois de lá estar.

Entrou em casa, acendeu a luz e reparou que no chão tinha uma folha A4. Acendeu a luz e rasgou um sorriso nos lábios. O bilhete rezava: ‘Só para te dizer’ e tinha uma seta para que virasse a folha onde se completava: ‘que te amo muito’.

Ainda de sorriso aberto e inebriado pela mensagem de amor e os copos de licor, começou a despir-se. Atirou a roupa por onde passava, acendeu um cigarro e sentou-se no sofá só de cuecas. Pegou no telemóvel e lembrou-se de lhe enviar uma sms a dizer ‘Bebi de mais e vim para minha casa, não estava em condições de ir para a tua’. Ele ficou ‘louco’ e ripostou com chamadas para o telefone dela. Ela rejeitava-as. A ideia de que ele pudesse perceber que ela estava em casa dele passou-lhe pela cabeça. Decidiu enviar nova sms a dizer ‘tou sem bateria, amanhã falamos’ e desligou o telefone. Apagou as luzes e começou a apanhar a roupa que tinha espraiado pelo chão. Atirou-a para trás do sofá, junto com a carteira e o maço de cigarros, despejou o cinzeiro e voltou a virar a folha A4 para a sua posição original. Às apalpadelas e sem ligar a luz, foi para o quarto e deitou-se.

Quase que conseguia adivinhar e ouvir os pneus do carro dele a chiar na entrada da garagem. Em minutos, ouviu a chave entrar na fechadura. Quase deixou de respirar para que ele não suspeitasse. Ouviu-o pousar a chave na consola do corredor, parar na porta da sala e encaminhar-se para o quarto. Acendeu a luz e, quando a viu, soltou um ‘se voltas a fazer isto, mato-te’ e num golpe de mestre de amor aliviado ‘atacou-a’ com beijos e cócegas que a fizeram gargalhar de feliz.

Fizeram amor como nunca tinham feito. No meio do acto mais perfeito que tinham concebido (ela ofegante em cima dele a fundirem-se num só) ele agarrou-a no pescoço como se a fosse esganar de amor, ao de leve, olhou-a nos olhos, profundamente, e perguntou ‘Sabes o que isto é?, é amor’.

Sim era amor. Foi amor que ela sentiu, naquele dia.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Rotinas

Qual é o problema que todos têm com a rotina??

Pergunta que não é retórica. Tem resposta.
Não será a vida feita de rotinas? Sem dúvida.
O dia a dia de todos é hábito, é costume, é prática frequente de um chorrilho de coisas: o acordar, o dormir, o lavar os dentes, o comer, o amar, o brincar, o trabalhar, o pensar, o cuidar, o ler o jornal de Domingo, o espreguiçar na cama e o ver aquele filme ao fim de semana refastelada no sofá, o estar com a família, os momentos com os amigos, o saborear o delicioso café pós refeição e o deleitável cigarro pós coito.

Abaixo o chavão e o lugar-comum de que a rotina tem que ser enfado ou que algo não resulta porque se tornou praxe obrigatória. Cabe a cada um de nós converter a amofinação do que é hábito e costume em prazer e deleite. Procurar consolo, gozo e alívio no que se fez ontem, no que é feito hoje e no mesmo que será feito amanhã. Podemos fazer o que é constante com sabedoria, ciência, erudição até, e versatilidade. A vida é feita de pormenores, isso sim. Coisas pequenas - as quais podemos tornar proveitosas, frutíferas, sinónimos e revelações ou anúncios de prazer.

Quem muito deseja viver no limite e se alimenta da adrenalina premente acaba só e, invariavelmente, infeliz. Quando olha para trás, a vida passou tão rápida e aceleradamente que nem nos lembramos dos pormenores ou das pessoas importantes com quem vivemos (ou que seria suposto lembrar). A vida não se vive melhor no limite do cansaço que causa a procura e a demanda incessante de algo novo, porque se esgota, não é fonte renovável e cansa. Existir assim é viver no limite do inadiável e há tanta coisa que podemos adiar e substituir por outras mais pequenas, mas imensamente proveitosas.

Quero ‘crescer’ bem.
Significa isto que aprendi a gostar das rotinas e não as sentir como fantasmas ou espectros que assombram a nossa humana e transitória existência. Quero a mesma companhia anos a fio. Quero amar o mesmo hoje e sempre, aos trinta. Quero sexo, amor, felicidade e rotineira segurança, aos quarenta. Quero os almoços e jantares em família, aos cinquenta. Quero poder ter o meu kit de roupão e chinelos, aos sessenta. Quero passeios à beira mar de mão dada, aos setenta. E se toda esta longevidade me for permitida, quero fazer, refazer, misturar e repetir tudo de novo, vezes e vezes sem conta.

Pioneirismo

Queria viajar-te por dentro.
Descobrir artérias, vasos, sentidos, músculos, espírito e alma sem pagar portagem, tarifa ou preço tabelado. Queria ser EU a desenterrar em ti e no teu ser aquilo que sequer foi tocado e se conserva inviolado. Todos temos, algures, uma parte dessas. Aquela peça do Lego que escapou a alguém dissecar, encaixar, conhecer, compreender e aprender a amar.

Ser pioneira!
É essa a palavra! (‘tava mesmo na pontinha da língua’ - que é outra parte boa, mas para redescobrir’ porque já vai ‘adiantada’ a idade e porque para ser, ainda, um fragmento a destapar e explorar não poderia ser em ti (ou nós, humanos, ex-crianças de peito, mamíferos de leite nascidos, hoje adultos) não fosse este o orgão mais prematuramente usado na busca de alimento, no conforto de um regaço cobiçoso e sôfrego de aleitamento- a descoberta da língua seria, pois, uma tarefa inexequível :).

Queria ser sentinela da tua vontade. Perceber-te a alma encoberta. Velar-te o desejo e equilibrar-te o ânimo. Conhecer-te o avesso como observo o invólucro. Ser dona daquilo que te faz feliz e fazer do meu aconselhar uma responsabilidade desnecessária. É sempre o amor que vence e nunca o ódio ou a raiva. Gostava de nunca ter esquecido esta verdade inquebrável.

domingo, 11 de maio de 2008

O legado

Os pais fizeram-na assim. Manteiga derretida. Não que isso fosse problema. Aprendeu boas lições de vida com eles. Daquelas que ficam entranhadas e cravadas na pele para o resto da vida. Respeitar os outros, não tratar mal por dá-cá-aquela-palha e até dar a face direita depois de ter sido esbofeteada na esquerda. Outro legado lhe deixaram: pedir perdão é sinal de grandeza e nunca de fraqueza, rebaixamento ou humilhação. Mostrar o que sentimos era outro dos mandamentos. Para quê reprimir um ‘amo-te’ quando podemos dizê-lo vezes sem conta porque não se gasta?

Foi assim que cresceu e foi educada. As pessoas não são sempre boas ou más, não têm defeitos, mas sim características e era assim que ela as via. Mais vale empolar as virtudes e olhar para elas com admiração do que inchar as imperfeições e transformá-las num esboço falhado de alguém que não pode ou sabe mais.

Ensinaram-lhe que temos que estar munidos de uma balança. Ela entendeu, logo à primeira, o que isso significava. A escolha só podia ser feita por ela e por mais ninguém. Uma coisa equilibrada. Dois pratos, um de um lado, outro de outro, sem margem para erro ou dúvida. De um lado os prós, do outro os contras. Uma escolha ajuizada e prudente. Não bastava ter o objecto, a tal balança, era preciso saber usá-lo com cabeça, coração e sentimento. ‘Que pessoa queres para a tua vida’, questionavam eles. ‘Põe num prato as boas características e no outro prato as más e PENSA ‘o que é a minha vida com esta pessoa e o que é sem’. A escolha, assim, era fácil, se tudo dependesse dela e o amor triunfasse, que se lixassem os defeitos. A escolha era óbvia. Antes viver com os defeitos, mas ficar com essa pessoa, do que perdê-la para sempre. O amor triunfava e a adaptação era o troféu desejado.

Ela cresceu, viveu, reviveu e a vida ensinou-lhe uma coisa diferente.
O legado mantém-se, mas nem tudo são rosas como diziam os outros e quando só ela é que está munida dessa balança está o caldo bem entornado e derramado. Um sozinho não luta e ela sozinha não sabia lutar. Não lhe ensinaram essa parte da lição tão importante. Afinal de contas, as pessoas têm mesmo defeitos. Alguns genéticos, outros que a vida plantou e se tornaram incontornáveis por mais que empreendesse e tentasse trocar-lhes as voltas.

A sua experiência acabou por fazê-la de pedra. Uma ardósia dura onde se permitiu ser escrita, mas nunca apagada. Ela ainda perdoa, mas não esquece os riscos mal escritos, tão grosseiramente garatujados e as intransigências e ideias pré-concebidas que quem nunca a desejou ler como ela merecia.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Curtas

O bom tempo és tu.

domingo, 4 de maio de 2008

Não me sais da cabeça

Apaixonam-me a tua sagacidade e clarividência para o que queres para a vida.
Entusiasmam-me a sede e o apetite voraz do teu agora vivido intensa e agudamente.
Encorajam-me os teus momentos mais lúcidos em que sem hesitação falas do que sentes e anseias com avidez e certeza.
Alentam-me as tuas palavras num turbilhão proferidas, com pedidos de promessas e ofertas de um afecto perfeito, exequível e eterno.
Conforta-me o teu saudável ciúme correspondido sem meias palavras e sem preconceitos.
Acalentam-me os teus desejos em harmonia e uníssono com os meus que pensava amortecidos e extintos.
Anima-me o tempo que queres só para nós.

Preocupa-me a tua intermitência e o teu espaço de dúvida.
Inquieta-me que o teu estares pronto para tudo se esvaia em descuido.
Agita-me pensar em arriscar e esvaziar o que sinto.
Alarma-me que o bom que tivemos não supere o mau que nos inquieta o espírito.

A prova que Deus não existe é não ter feito os homens carneiros para se alimentarem das ervas do monte ou porcos para a bolota. Fez-nos Homens, machos e fêmeas, carentes de amar e ser amados. Às vezes custa tanto e é tão sofredor.

Corrijo o que disse....somos nós e não Deus quem nos fez fazermos do amor uma coisa árdua: quando queremos o que (achamos que) não temos quando já temos o que nos faz feliz ou complicamos o que é fácil e bom e cambiamo-lo ao desbarato e sem licitação por atritos e conflitos invalidados num punhado de nada.
Não há psi20, métrica, medida ou peso que meça ou faça as contas ao amor. É algo que se sente ou não se sente. Quando se sente, luta-se com suor, lágrimas, unhas e dentes até ao último fôlego ou rasgo de vida.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Tudo

Sei que nasci e que vou morrer. O que fica pelo meio é meu.