sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ela e a Outra

Ela é bonita.
Não se sente assim por já lho terem dito ou porque é agradável a imitação que vê reflectida no espelho, mas porque é o que sente. Este legado não tem nada de herança genética, congénita, inata ou familiar. O que está lá dentro é que conta.
Muito mais do que a cópia que o espelho lhe aponta, prefere a que o ‘retrovisor’ lhe prova – se é que é possível que seja este que lhe lê os sarrabiscos garatujados lá ‘dentro’ ao invés das linhas que observa cá ‘fora’.
Ela é inteligente.
Não porque leu enciclopédias sem fim ou quer estudar até ao remate dos seus dias, mas porque se tornou sensível aos outros e às suas verdades. Escolheu ser conhecedora e observar o que existe aos olhos de todos, recusando a mesquinhez e a mediocridade dos outros que cegam e invadem vidas e coisas alheias. Sabe falar e estar. Sabe ser conveniente. Procura nos livros e na música o que a vida tem, mas não lhe permite ver e palpar.
Ela é comodista.
Não na forma como os ociosos sabem sê-lo quando se deitam sobre as suas próprias migalhas incapazes de se moverem para o que quer que seja, incluindo ocorência de terramoto, mas de uma forma saudável porque sabe o que quer e essa sapiência lhe sugere que a sua opção é e vai permanecer imutável apenas porque já é perfeita. Para quê alterar o que consideramos bom e seguro por algo desconhecido e abusivamente invasor.
Ela é apaixonada.
Exactamente da mesma forma que todos os amantes piegas o são. Adora e alimenta toda a lamechice dos pinga-amores, das cartas (de amor) ridículas, dos sentimentos febris, jugulares e pululantes de desejo exaltado. Às vezes não o mostra porque os outros ‘condenam’ e olham de soslaio quem assim ama e repentinamente confundem doença de amor com amor doente – que diferença abissal!

Às vezes transforma-se na outra.
Não da forma como os idiotas associam este pronome a sinónimo de amante ou segunda escolha (pobres coitados que não pensam que estoutra é a melhor ‘desculpa’ para arcar com as culpas da merda de vida que levam por não terem coragem de se comportar como amantes que arriscam e vivem muito do pouco ou nada que levam….apenas porque amam incondicionalmente)!, mas porque esses outros a ‘obrigam’ a sê-lo dada a sua (deles) incomensurável e desmedida mediocridade patológica.
Todos se transformam noutra coisa qualquer dependendo do estímulo, isto sim é uma verdade insofismável.

É assim que Ela se transforma. É assim que a Outra renasce vezes e vezes sem conta sem nunca tomar de vez o lugar que a Ela cabe. Muito embora a Outra lhe usurpe o lugar, de quando em vez, é Ela a genuína, a pura, a verdadeira. Nasceu Ela. Não sabe se vai morrer a Outra.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Senso-(des)comum

Para falar verdade não sei muito bem o que querem dizer, mas ouço muitas vezes falar através de portas, janelas e outras saídas travessas no ‘bom-senso’ que todos desejam imperador.

Sem saber muito bem quem é o magistrado nesta justa causa com a poderosa incumbência de limitar e delimitar o que é o bom-senso, não posso deixar de pensar em quem terá justeza suficiente para delinear o traço de onde acaba o bom e começa o ‘mau-senso’. Já para não falar na posição que ocupa, algures pelo meio, o senso comum (de repente, não me ocorre nenhum nome!).

Quem julga, trata, conceitua, absolve ou condena o que pertence a cada equipa permanece incógnito. Se cada um catalogar o que lhe apetece pelo seu próprio conceito de moral e pela sua tão pessoal e íntima visão do mundo, então cada um pode fazer e pensar o que lhe apetecer!, sem correr o risco de cair em erro ou mau julgamento, pois se não há árbitro à altura para sancionar o que está ou não errado a fim de o tornar correcto….talvez o erro esteja mesmo em ponderarmos entre o bom e o mau senso – se é que esta dicotomia existe! Não existem melhores ou piores juízos, tinos, sisos, sensos. Em cada indivíduo, eles são, apenas, diferentes.

Baseados naquilo que achamos bom ou mau, julgamos pessoas e situações, damos conselhos, avaliamos comportamentos, traçamos caminhos, tomamos posições, encontramos preferências, esquecendo, na maioria das vezes, que o nosso senso comum diverge do dos outros e que o que para nós é bom ou mau pode não ser concordante com o que os demais pensam. O que para uns é fastio e enfado, para outros pode ser alegria e divertimento, firmeza para uns será sinal de fraqueza para outros, valentia poderá ser cobardia, excesso de expansividade poderá ser camuflada timidez….a lista seria interminável.