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sexta-feira, 26 de julho de 2019
Not a blogger
Há coisas que não entendo num blog. Com tudo o que este tem de obrigatoriedade, nos dias de hoje.
O espartilho de que tem que ter um certo 'tom' ou ser sobre tema A,B ou C.
Quando criei este blog, há muitos anos, foi numa altura em que queria escrever, deliberar, opinar sobre algumas coisas.
Foi catártico durante o tempo que teve que ser. Um tempo de solteirice aguda :) em que as horas não escasseavam para tudo o que se queria fazer.
Deixei-o adormecido. quieto. parado. morto.
Aconteceu tudo no meio dessa mortandade e o agora.
Uma paixão arrebatadora.
um filho.
Este filho.
O meu Manuel.
O meu filho.
Cliché de todas as mães que se prezem e dignas desse nome - 'a minha vida'.
Cliché mais bom, este, que respiramos, vivemos, ansiamos.
Não há nada que se assemelhe.
Aquele segundo em que sai de dentro de ti e te percorre eletricamente a sensação alucinante de que nunca mais estás sozinha e nunca mais terás vontade de viver no fio de faca nenhuma, a expensas de vontades alheias a não ser daquele ser que nasceu de amor em estado puro, visceral, cúmplice, arrebatador, infinito.
Engraçada esta coisa de entendermos os nossos pais através dos nossos filhos: as advertências, a preocupação, a ansiedade, o amor próprio que se esvai em amor pelo outro, o nada que se transforma em tudo, o acessório que se evapora no essencial, o medo de não ser suficiente e não saber gerir a familía nuclear esboroada em separação de progenitores e morte do meu pai.
O blog ficou cada vez mais longe, mais apagado, a password olvidada, o esgaravatar de uma luta para esquecer a tristeza de que um 'era para sempre' se tornou num acabou.
O pavor de não possuir forças para criar um filho sozinha: sem competência, estágio maternal, ou antecâmara de preparação; a ausência de um pai/avô babado que não chega a ver o suficiente de um neto altamente desejado e com um mundo de amor para dar, roubado por um cancro maldito e feroz.
Hoje vou reanimá-lo. Encontrei a password. vai ficar em banho-maria. Vou voltar cá. De vez em quando.
Etiquetas:
Amores,
Fragilidades,
Intimidades,
Maternidade,
O nosso mundo,
Vidas
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Meaning love?
Desilusões amorosas todos temos. Desde tenra idade e precoce infância aprendemos a amar de forma distinta. E tão diversa é esta forma se se trata de humano em versão macho ou versão fêmea. 90% do mulherio é todo virado para o Romantismo, para as comédias românticas a par das tragédias gregas, para as flores e os mares de rosas ou tulipas (cada qual escolha a flôr que quiser), para o folclore dos poemas de amor, para as atenções redobradas com a pessoa que amam, para os slows-dor-de-corno que tocam na rádio. Anulam-se prazeirosamente em prol da sua cara-metade, que é qualquer uma com quem partilhem vida, naquele momento. Aborboletam tudo, pintam momentos de arco-íris, enfeitam com lantejoulas, purpurinas e gloss cor de lollypop toda e qualquer patranha que lhes contem ao ouvido, desde que venha em versão voz de mel sussurrada ao ouvido. São felizes assim. Se em duas torradas do pequeno-almoço, que fazem, uma se queima ....é essa que comem, e oferecem a boa ao seu ‘amorzinho’, se as laranjas espremidas só dão para copo e meio de sumo é o meio que bebem, o cheio já sabem para quem vai, se há trinta tarefas para fazer porque não fazer 25 e deixar apenas 5 para ele (que anda tão cansado)?
As mulheres que assim são, existem mesmo! São genuínas. Não mentem nem fazem, como se ouve por aí, para depois dizer que fazem. Amam. Dão tudo. São felizes assim. A cuidar, mimar, tratar, nutrir, bem-querer. Mas gostam de reconhecimento, não de agradecimento. RECONHECIMENTO. O amor que sentem, define-as. Porque acreditam no que lhes dizem, nas promessas siciadas de protecção de um amor-para-sempre indestrutível e inderrubável. Palermas são pois não aprendem NUNCA a acreditar, sim, no que vêem e não no que ouvem.
Não olvidada esta máxima, tão mais facilitada a vida. Palavras leva-as o vento, toda a vida se ouviu dizer. E se as palavras não condizem com o que vemos ser feito, qual é a dúvida??? A culpa é nossa e só nossa. As consequências também, porque quem diz o que não sente, age em conformidade com isso e o sofrimento incutido nos outros que os amam passa ligeira e com tamanha leveza esfumaçando promessas vãs feitas sem pensar ou sentir, desejos fortuitos compreendidos como para toda a vida que, para nós, era longa e eterna. Tudo acaba, de forma abrupta, sem direito a explicação, respeito, consideração pelo amor vociferado, nunca sentido como outrora interpretámos. Matam-nos as esperanças, dilaceram-nos projectos, esquartejam-nos o que pensámos ter havido de bom e dizem-nos que nunca existiu e que nunca bastou!!
Não teremos vivido ambos a mesma vida?, não teremos passado pelas mesmas experiências?. Não teremos habitado a mesma casa,partilhado famílias, sofá, mesa e cama? Não. Um disse o que nunca chegou a sentir, falou do que nunca esteve disposto a fazer, prometeu o que nunca fez tenção de cumprir. Outro interpretou à letra e junto ao peito o que entendeu e acreditou ser verdadeiro, sem coragem para jamais pôr em causa. Na ruptura, um está repleto de certezas e sem recordações, outro aprende a viver vazio de translúcidas memórias não esquecidas.
As mulheres que assim são, existem mesmo! São genuínas. Não mentem nem fazem, como se ouve por aí, para depois dizer que fazem. Amam. Dão tudo. São felizes assim. A cuidar, mimar, tratar, nutrir, bem-querer. Mas gostam de reconhecimento, não de agradecimento. RECONHECIMENTO. O amor que sentem, define-as. Porque acreditam no que lhes dizem, nas promessas siciadas de protecção de um amor-para-sempre indestrutível e inderrubável. Palermas são pois não aprendem NUNCA a acreditar, sim, no que vêem e não no que ouvem.
Não olvidada esta máxima, tão mais facilitada a vida. Palavras leva-as o vento, toda a vida se ouviu dizer. E se as palavras não condizem com o que vemos ser feito, qual é a dúvida??? A culpa é nossa e só nossa. As consequências também, porque quem diz o que não sente, age em conformidade com isso e o sofrimento incutido nos outros que os amam passa ligeira e com tamanha leveza esfumaçando promessas vãs feitas sem pensar ou sentir, desejos fortuitos compreendidos como para toda a vida que, para nós, era longa e eterna. Tudo acaba, de forma abrupta, sem direito a explicação, respeito, consideração pelo amor vociferado, nunca sentido como outrora interpretámos. Matam-nos as esperanças, dilaceram-nos projectos, esquartejam-nos o que pensámos ter havido de bom e dizem-nos que nunca existiu e que nunca bastou!!
Não teremos vivido ambos a mesma vida?, não teremos passado pelas mesmas experiências?. Não teremos habitado a mesma casa,partilhado famílias, sofá, mesa e cama? Não. Um disse o que nunca chegou a sentir, falou do que nunca esteve disposto a fazer, prometeu o que nunca fez tenção de cumprir. Outro interpretou à letra e junto ao peito o que entendeu e acreditou ser verdadeiro, sem coragem para jamais pôr em causa. Na ruptura, um está repleto de certezas e sem recordações, outro aprende a viver vazio de translúcidas memórias não esquecidas.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
(Recém) vida de uma (recém) mãe (recém) solteira
Ainda está fresca numa expectante e feliz memória a imagem de mulher sentada na sanita à espera de um resultado que a medo, muito medo se desejava positivo. Não podia crer que pudesse acontecer-lhe ficar de esperanças assim, tão fácil quando há já tento tempo se mentalizara que poderia amar filhos de outro e nunca um seu a que pudesse ousar chamar ‘de verdade’. Dez minutos depois de testado o fio amarelo escorrido por um pauzinho adivinhatório conseguiria descortinar se o destino lhe reservara o sinal – ou +. Mas quais dez minutos!....um minuto depois apresentou-se um +. Incrédula, leu e releu as instruções. Virou-as de trás para a frente, de cabeça para baixo. Depressa pensou ‘deve ser assim... aparece o +, mas passados dez minutos passa para –‘. Esperou, fumou e, esperou....mais de meia hora! duas priscas mais tarde, resolveu levantar-se da sanita ao mesmo tempo que absorvia a inacreditável notícia....estava GRÁVIDA.
Um turbilhão de emoções afloraram em cada poro, em cada pêlo. Estava apavoradamente feliz. Tanta inveja tinha sentido da irmã, sabedora de uma gravidez sem contar, apenas pouco mais de uma semana antes. A primeira pessoa a quem ligou, inusitadamente, foi ao futuro cunhado. Tinha sido o prenunciador: fora por seu incentivo que, naquele dia, ao final da tarde, de um penúltimo dia de Dezembro , tinha parado o carro, entrado numa farmácia e comprado o amedrontado teste. O que pensar? O que fazer? Parar de fumar isso era certo e tinha que ser já! Contar a quem? E se não for verdade? Queria acreditar que sim. A vida tinha-lhe trazido um presente de Natal tardio....o melhor de sempre. Será que merecia tamanha oferenda nunca equiparada ao incenso, à mirra e a todo o ouro dos magos? Isso!, muito melhor do que isso, trouxera-lhe o menino.
Depois do primeiro choque, a família. Dois netos, dois sobrinhos, dois filhos....e de uma só vez. Que interessavam, nos tempos de agora, as divergências desencontradas do dia a dia, o desacerto de agulhas que nunca deixaram de apontar no mesmo sentido?, acreditava ela. Era o fim desejado, o culminar de um amor nunca posto em causa, independentemente de tudo. Era a felicidade a abraçar uma casa, a confortar e unir uma família fermentada e acrescentada pelo que de mais precioso pode advir de duas pessoas a amar em uníssono: um filho. Não há lexema, língua ou palavras que expliquem. Esperava-se uma exfusiante resposta. Veio em formato comedido, a medo e decidiu entender-se porquê. Traduziu-se, mais tarde, o verdadeiro e indecifrável motivo. Não esperado ou imaginado. Dilacerante. Escreveu assim por ser esta uma narração omnisciente e omnipresente numa primeira pessoa que prefere deixar este texto assim: aberto, esperançoso, cheio de potencialidades, que pudessem sem reescritas e não tenham sido vividas. Assim.
Um turbilhão de emoções afloraram em cada poro, em cada pêlo. Estava apavoradamente feliz. Tanta inveja tinha sentido da irmã, sabedora de uma gravidez sem contar, apenas pouco mais de uma semana antes. A primeira pessoa a quem ligou, inusitadamente, foi ao futuro cunhado. Tinha sido o prenunciador: fora por seu incentivo que, naquele dia, ao final da tarde, de um penúltimo dia de Dezembro , tinha parado o carro, entrado numa farmácia e comprado o amedrontado teste. O que pensar? O que fazer? Parar de fumar isso era certo e tinha que ser já! Contar a quem? E se não for verdade? Queria acreditar que sim. A vida tinha-lhe trazido um presente de Natal tardio....o melhor de sempre. Será que merecia tamanha oferenda nunca equiparada ao incenso, à mirra e a todo o ouro dos magos? Isso!, muito melhor do que isso, trouxera-lhe o menino.
Depois do primeiro choque, a família. Dois netos, dois sobrinhos, dois filhos....e de uma só vez. Que interessavam, nos tempos de agora, as divergências desencontradas do dia a dia, o desacerto de agulhas que nunca deixaram de apontar no mesmo sentido?, acreditava ela. Era o fim desejado, o culminar de um amor nunca posto em causa, independentemente de tudo. Era a felicidade a abraçar uma casa, a confortar e unir uma família fermentada e acrescentada pelo que de mais precioso pode advir de duas pessoas a amar em uníssono: um filho. Não há lexema, língua ou palavras que expliquem. Esperava-se uma exfusiante resposta. Veio em formato comedido, a medo e decidiu entender-se porquê. Traduziu-se, mais tarde, o verdadeiro e indecifrável motivo. Não esperado ou imaginado. Dilacerante. Escreveu assim por ser esta uma narração omnisciente e omnipresente numa primeira pessoa que prefere deixar este texto assim: aberto, esperançoso, cheio de potencialidades, que pudessem sem reescritas e não tenham sido vividas. Assim.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Há dias que não se esquecem.
Porque um filho nasce,
porque um dependente se liberta,
porque nos despedimos de alguém,
porque uma amiga nos trata,
porque se deixa um emprego,
porque se perde um cão, companheiro de vida.
Porque se quer arrancar o coração do peito,
porque quem amamos adoece,
porque o amor enferma,
porque se quer morrer,
porque se quer viver.
Porque querer não é poder ter
porque chorar pode ser não sofrer
porque rir pode ser esconder.
Porque um dia nos disseram, vais ser feliz
porque um dia provamos não ser assim
porque quem está perto não deixa de estar
porque quem já esteve tivemos que abjurar.
Porque o sol esteve cá e foi um dia bom,
porque a nuvem veio e ficou ruim
porque o tempo apaga
quando há dias assim.
(15 de Abril de 2010 (…) há dias assim)
porque um dependente se liberta,
porque nos despedimos de alguém,
porque uma amiga nos trata,
porque se deixa um emprego,
porque se perde um cão, companheiro de vida.
Porque se quer arrancar o coração do peito,
porque quem amamos adoece,
porque o amor enferma,
porque se quer morrer,
porque se quer viver.
Porque querer não é poder ter
porque chorar pode ser não sofrer
porque rir pode ser esconder.
Porque um dia nos disseram, vais ser feliz
porque um dia provamos não ser assim
porque quem está perto não deixa de estar
porque quem já esteve tivemos que abjurar.
Porque o sol esteve cá e foi um dia bom,
porque a nuvem veio e ficou ruim
porque o tempo apaga
quando há dias assim.
(15 de Abril de 2010 (…) há dias assim)
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Voltas
Sabia que a boa nova chegaria um dia e como suplemento a responsabilidade do que fazer com ela.
A época ditava o que se sabia velho, novo e ainda por nascer. Desconhecedores os sujeitos, agora, do real efeito de tamanho fardo.
O tempo fora ladrão, daqueles que roubam tamanha riqueza sem levarem castigo ou punição. O mesmo tempo que assassinamos sem nunca percebermos que é ele quem nos mata a nós próprios sem pedido de licença escrito ou falado, prévio ou póstumo.
É na nossa própria (e, por vezes, asinina) cabeça que melhor nos admoestamos. Sem talento, vocação, engenho ou arte para a auto-salvação é, muitas vezes, pela de outrem que mais ansiamos sem logro ou patranha embusteada para nós mesmos. Se coragem nos falta para nos redimirmos dos nossos pecadilhos, falhas ou comportamentos consequentemente desajustados daquilo que ambicionamos, é nos outros que depositamos esperanças, assentamos embalo e alento, confiamos aspirações.
Sabemos que a vida é capaz de ser sacana e patife como só ela sabe? Ou será que consegue, apenas, ser justa em duelo ou disputa privada quando concorre amancebada connosco e nos troca as voltas e meias-voltas em concubinato com aquilo que queremos e ao contrário fazemos?
É certo que a vida corre, o tempo não volta, não cresce, decresce. Obtura, obstrui e arrolha tudo de uma vez. Não é criterioso, marca, não estanca, mas carimba e etiqueta o que contenta, apazigua, alegra, magoa, pisa, lacera, rasga e dói.
A época ditava o que se sabia velho, novo e ainda por nascer. Desconhecedores os sujeitos, agora, do real efeito de tamanho fardo.
O tempo fora ladrão, daqueles que roubam tamanha riqueza sem levarem castigo ou punição. O mesmo tempo que assassinamos sem nunca percebermos que é ele quem nos mata a nós próprios sem pedido de licença escrito ou falado, prévio ou póstumo.
É na nossa própria (e, por vezes, asinina) cabeça que melhor nos admoestamos. Sem talento, vocação, engenho ou arte para a auto-salvação é, muitas vezes, pela de outrem que mais ansiamos sem logro ou patranha embusteada para nós mesmos. Se coragem nos falta para nos redimirmos dos nossos pecadilhos, falhas ou comportamentos consequentemente desajustados daquilo que ambicionamos, é nos outros que depositamos esperanças, assentamos embalo e alento, confiamos aspirações.
Sabemos que a vida é capaz de ser sacana e patife como só ela sabe? Ou será que consegue, apenas, ser justa em duelo ou disputa privada quando concorre amancebada connosco e nos troca as voltas e meias-voltas em concubinato com aquilo que queremos e ao contrário fazemos?
É certo que a vida corre, o tempo não volta, não cresce, decresce. Obtura, obstrui e arrolha tudo de uma vez. Não é criterioso, marca, não estanca, mas carimba e etiqueta o que contenta, apazigua, alegra, magoa, pisa, lacera, rasga e dói.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Se me mudam....
Sempre soube o que queria e afiançou-se que depois de uma série de episódios tramados não ia esfolar os joelhos por dá-cá-aquela-palha.
No tempo que falta ao tempo que sobra desvendou satisfação nas pequenas coisas encetadas, concluídas e valorizadas a sós, por isso mesmo ou só porque sim, numa capacidade fortuita e quase acidental de se abjurar a si própria do que sofre, faz sofrer e é sofredor.
Dito e redito vezes sem conta, não deseja retiros ou isolamentos forçados, não se proibiu amar, mas vedou sentimentos.
Nascida sem resguardo, protecção ou defesa aditada, aderiu ao trapézio com rede, menos holywoodesco, mas mais amparado, refúgio protector de existência bem mais arrimado que permite viver, e não sobreviver, com travão, marcha à ré ou airbags.
Parece gostar do que sente agora: sensação de paixão purificadora descoberta numa catarse bilateral, impressa e refundida em afagos, desvelos e cuidados.
Não lhe parece, ainda, inferior a vida sem amor, agora. Não sabe como se lhe apresentará a questão em dias, semanas ou meses.
Perdeu pequenas/grandes coisas.
Disso está certa, como genuína será a proeza de ter conseguido beneficiar de outras tantas.
Aprenderá, um dia, se, surpreendentemente, a ensinarem a arriscar num limbo noctâmbulo sem pavor de um fimbriado e agitador estalar de dedos.
No tempo que falta ao tempo que sobra desvendou satisfação nas pequenas coisas encetadas, concluídas e valorizadas a sós, por isso mesmo ou só porque sim, numa capacidade fortuita e quase acidental de se abjurar a si própria do que sofre, faz sofrer e é sofredor.
Dito e redito vezes sem conta, não deseja retiros ou isolamentos forçados, não se proibiu amar, mas vedou sentimentos.
Nascida sem resguardo, protecção ou defesa aditada, aderiu ao trapézio com rede, menos holywoodesco, mas mais amparado, refúgio protector de existência bem mais arrimado que permite viver, e não sobreviver, com travão, marcha à ré ou airbags.
Parece gostar do que sente agora: sensação de paixão purificadora descoberta numa catarse bilateral, impressa e refundida em afagos, desvelos e cuidados.
Não lhe parece, ainda, inferior a vida sem amor, agora. Não sabe como se lhe apresentará a questão em dias, semanas ou meses.
Perdeu pequenas/grandes coisas.
Disso está certa, como genuína será a proeza de ter conseguido beneficiar de outras tantas.
Aprenderá, um dia, se, surpreendentemente, a ensinarem a arriscar num limbo noctâmbulo sem pavor de um fimbriado e agitador estalar de dedos.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
A primeira
Tinha sido assim esta noite.
Tímida, envergonhada, retraída, encavacada, aliás como todos os encontros prévios, não fosse a forma como se tinham conhecido menos convencional do que o costume ou razoavelmente menos aceitável para um punhado de pessoas.
Depois do primeiro impacto e transposto o inicial desassossego acompanhado da inquietude aflitiva das borboletas no estômago, a vontade refreada pelo medo tinha alcançado tamanho ímpeto que a vontade de estar e ficar começara a ganhar forma, conteúdo e recheio.
O sono era muito, a aptidão para o concretizar muito pouca entre discretas carícias, beijos acanhados e contidos abraços. Não fazia mal que não tivesse dormido a valer, pois que a valer tinha sido o encontro, adiado o repouso para quando não se tornasse desperdício perder um toque de mãos ou para quando visse retalhados e minguados os encontros seguintes.
(Sabia do que gostava.
Que a vida podia dar-lhe prazer e que talvez pudesse até melhorar, mas que nem sempre as suas mãos eram patroas do destino. Não simpatizava com as contrariedades da ‘relação’ à distância e da separação contrafeita que coava, lentamente, a vontade de investir sem medo, sem trapézio e sem rede).
Tímida, envergonhada, retraída, encavacada, aliás como todos os encontros prévios, não fosse a forma como se tinham conhecido menos convencional do que o costume ou razoavelmente menos aceitável para um punhado de pessoas.
Depois do primeiro impacto e transposto o inicial desassossego acompanhado da inquietude aflitiva das borboletas no estômago, a vontade refreada pelo medo tinha alcançado tamanho ímpeto que a vontade de estar e ficar começara a ganhar forma, conteúdo e recheio.
O sono era muito, a aptidão para o concretizar muito pouca entre discretas carícias, beijos acanhados e contidos abraços. Não fazia mal que não tivesse dormido a valer, pois que a valer tinha sido o encontro, adiado o repouso para quando não se tornasse desperdício perder um toque de mãos ou para quando visse retalhados e minguados os encontros seguintes.
(Sabia do que gostava.
Que a vida podia dar-lhe prazer e que talvez pudesse até melhorar, mas que nem sempre as suas mãos eram patroas do destino. Não simpatizava com as contrariedades da ‘relação’ à distância e da separação contrafeita que coava, lentamente, a vontade de investir sem medo, sem trapézio e sem rede).
quinta-feira, 9 de abril de 2009
É mais do que sina isto que nos obriga a uma vida de fiapos de vida que acorda mal disposta em rotineiros e acostumados ciclos de existência mais às segundas que às terças, mas também às quartas e quintas.
É da idade, ou da escassez de repouso ou hipérbole do mesmo, ou do desassossego nocturno que relaxa depois numa dengosa, ociosa e absolutamente deliciosa preguicite matinal.
Quem me paga a mim o que cobro a mim mesma por não ter escoado para a cama mais cedo e ter permitido o descuido do sono velado, assoberbado agora por esta moleza?
O despertador replica, refila e toca em repetitivo protesto uma, duas, três vezes e de dez em dez minutos até esgotar a margem que ainda permite chegarmos apenas e SÓ dez minutos atrasados. Apetece uma constipação ou uma gastro-qualquer-coisa repentina daquelas que não matam, mas moem e são permissivas para o ‘ficar na cama obrigatório’, sem sentimento pecaminoso de culpa.
Porque custa tanto acordar cedo para trabalhar?
É da idade, ou da escassez de repouso ou hipérbole do mesmo, ou do desassossego nocturno que relaxa depois numa dengosa, ociosa e absolutamente deliciosa preguicite matinal.
Quem me paga a mim o que cobro a mim mesma por não ter escoado para a cama mais cedo e ter permitido o descuido do sono velado, assoberbado agora por esta moleza?
O despertador replica, refila e toca em repetitivo protesto uma, duas, três vezes e de dez em dez minutos até esgotar a margem que ainda permite chegarmos apenas e SÓ dez minutos atrasados. Apetece uma constipação ou uma gastro-qualquer-coisa repentina daquelas que não matam, mas moem e são permissivas para o ‘ficar na cama obrigatório’, sem sentimento pecaminoso de culpa.
Porque custa tanto acordar cedo para trabalhar?
domingo, 4 de janeiro de 2009
The day after
No dia seguinte, ninguém morreu.
Contra todas as leis do seu Universo e regras desta vida ou doutra qualquer, tinha acabado o que, há muito, deixara de fazer sentido. Não que fosse uma doença daquelas, ridiculamente, mortais. Mas era mesmo parecido. Sabia que ia sentir isto assim. Nem mais, nem menos do que o limite. Nunca fazia as coisas por menos. Que antevista e previsível letalidade!
Todo o corpo lhe doía e, a acompanhar este fadário, a cabeça, que mais parecia estar separada do resto, eclodia de dor. Estava lívida, exangue, gasta. Sentia-se mal, imperfeita e azarada. A coragem sumira-se, a vontade eclipsada já não era comandada pelo seu cérebro descordenado, agora, de tudo o resto. Era o obituário amoroso mais imperfeito e necrológico de todos os que tinha previsto para si mesma. Não queria acreditar nesta mortandade que lhe parecia tão certa.
As pernas fraquejavam. O nó no fundo da garganta não se desfazia com nada. O murro violento sentido na boca do estômago era autêntico e perpetuador…dias e dias a fio. O couro cabeludo dorido atalhava-lhe a vontade que experimentava de arrancar até ao último fio de cabelo. Os comprimidos que tentava engolir como panaceia para o vazio sentido não havia meio de descerem e consumarem o caminho que ela mesma desejava percorrer e rematar, o da cura para a enfermidade de amor que ganhara terreno, inóspito agora, outrora produtivo e fecundo.
Perguntava-se, vezes sem conta, como não tinha previsto aquilo? Como tamanho sofrimento se abatera sobre ela sem que tivesse dado conta a tempo e horas de fazer qualquer coisa? - o que quer que fosse e que a orientasse para não se sentir uma parva culpada e vítima daquele amor delinquente.
Queria estar cega e surda. Não queria ouvir os conselhos dos outros, remédios placebos sem resultado nenhum. ‘O tempo? Não me venham com o tempo que cura tudo e que passa a correr! É mentira! Não passa….passa devagar, arrasta-se, rasteja e atrasa-se. Não há tempo que me venha salvar já e agora e é isso que eu quero (e preciso)’!
É uma revolta que cresce, uma vontade de desembestar em todos os sentidos; é não compreender e não ter resposta que nos valha à pergunta ‘Porquê eu?’; é querer consertar sem saber como ou se vale a pena; é estar cosida, ou antes remendada, aos lençóis e fundida à cama, não querer sair e nem tomar banho. É dor, é sofrer, é choro convulso….é a companhia eterna da baba, do ranho e dos perpétuos papos nos olhos.
No fim, ou dia seguinte (como queiram), ninguém morreu.
O tempo, afinal, passa.
Cura, cicatriza e fecha. Faz esquecer ou não, mas isso já nem tem importância. Quitou-lhe a dor: suavizando-a primeiro, ventilando-a para longe depois.
Já não sofre nem quer sofrer. Descobriu exíguos prazeres nas pequenas coisas.
Quer sentir o vento leve na cara, o algodão doce festivo a derreter-se na boca, o sal fino do mar a encorrilhar-lhe os lábios, o arrepanhar da pele queimada do sol, a lambidela peganhenta do cão perdigueiro, o gás de uma Cola a subir-lhe ao nariz, a passa do primeiro cigarro do dia que a deixa tonta, o peso da toalha molhada num dia de praia.
Aprendeu a amar(-se), aprendeu a viver, aprendeu a valorizar porque….
…no dia seguinte? No dia seguinte, ninguém morreu.
Contra todas as leis do seu Universo e regras desta vida ou doutra qualquer, tinha acabado o que, há muito, deixara de fazer sentido. Não que fosse uma doença daquelas, ridiculamente, mortais. Mas era mesmo parecido. Sabia que ia sentir isto assim. Nem mais, nem menos do que o limite. Nunca fazia as coisas por menos. Que antevista e previsível letalidade!
Todo o corpo lhe doía e, a acompanhar este fadário, a cabeça, que mais parecia estar separada do resto, eclodia de dor. Estava lívida, exangue, gasta. Sentia-se mal, imperfeita e azarada. A coragem sumira-se, a vontade eclipsada já não era comandada pelo seu cérebro descordenado, agora, de tudo o resto. Era o obituário amoroso mais imperfeito e necrológico de todos os que tinha previsto para si mesma. Não queria acreditar nesta mortandade que lhe parecia tão certa.
As pernas fraquejavam. O nó no fundo da garganta não se desfazia com nada. O murro violento sentido na boca do estômago era autêntico e perpetuador…dias e dias a fio. O couro cabeludo dorido atalhava-lhe a vontade que experimentava de arrancar até ao último fio de cabelo. Os comprimidos que tentava engolir como panaceia para o vazio sentido não havia meio de descerem e consumarem o caminho que ela mesma desejava percorrer e rematar, o da cura para a enfermidade de amor que ganhara terreno, inóspito agora, outrora produtivo e fecundo.
Perguntava-se, vezes sem conta, como não tinha previsto aquilo? Como tamanho sofrimento se abatera sobre ela sem que tivesse dado conta a tempo e horas de fazer qualquer coisa? - o que quer que fosse e que a orientasse para não se sentir uma parva culpada e vítima daquele amor delinquente.
Queria estar cega e surda. Não queria ouvir os conselhos dos outros, remédios placebos sem resultado nenhum. ‘O tempo? Não me venham com o tempo que cura tudo e que passa a correr! É mentira! Não passa….passa devagar, arrasta-se, rasteja e atrasa-se. Não há tempo que me venha salvar já e agora e é isso que eu quero (e preciso)’!
É uma revolta que cresce, uma vontade de desembestar em todos os sentidos; é não compreender e não ter resposta que nos valha à pergunta ‘Porquê eu?’; é querer consertar sem saber como ou se vale a pena; é estar cosida, ou antes remendada, aos lençóis e fundida à cama, não querer sair e nem tomar banho. É dor, é sofrer, é choro convulso….é a companhia eterna da baba, do ranho e dos perpétuos papos nos olhos.
No fim, ou dia seguinte (como queiram), ninguém morreu.
O tempo, afinal, passa.
Cura, cicatriza e fecha. Faz esquecer ou não, mas isso já nem tem importância. Quitou-lhe a dor: suavizando-a primeiro, ventilando-a para longe depois.
Já não sofre nem quer sofrer. Descobriu exíguos prazeres nas pequenas coisas.
Quer sentir o vento leve na cara, o algodão doce festivo a derreter-se na boca, o sal fino do mar a encorrilhar-lhe os lábios, o arrepanhar da pele queimada do sol, a lambidela peganhenta do cão perdigueiro, o gás de uma Cola a subir-lhe ao nariz, a passa do primeiro cigarro do dia que a deixa tonta, o peso da toalha molhada num dia de praia.
Aprendeu a amar(-se), aprendeu a viver, aprendeu a valorizar porque….
…no dia seguinte? No dia seguinte, ninguém morreu.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Volver
Um mês de alegria, um ano de vazio.
Ela pergunta-se porque é que ‘volta’ para ele, de vez em quando...
É tarde.
Mas nunca o ultrapassou.
Era a forma dele se mover e de a mover a ela.
Não consegue virar-lhe as costas e ‘abandoná-lo’.
Caminha na sombra dele, ininterruptamente.
Quer deixar a luz ligada.
Para ela também.
A vontade não é tão grande como já foi.
Ainda acredita.
Pensa como seria.
Não abre mão disso.
É essa a armadura que veste. Sem olhar ao tamanho ou a modas convencionais.
O problema foi ele ter achado sempre que ela era forte de mais.
E ela não era.
Aquilo foi muito mais do que algum dia poderia suportar.
Nem sequer eram, foram ou ficaram amigos.
Já nem sequer o ama.
Mas não o consegue ultrapassar sozinha.
Um dia ela vai saber se o amor move mesmo montanhas.
E se ele era mesmo feito para ela.
Ainda ama o facto de pensar poder voltar para ele.
Não compreende esse facto.
Da mesma forma que não se compreende como é que Sansão amou tanto Dalila, ou porque é que enterraram o pote do ouro na ponta do arco-íris!!
Quer que o tango da vida lhe legende sem rodeios o que não sabe, soube ou saberá explicar.
Ela pergunta-se porque é que ‘volta’ para ele, de vez em quando...
É tarde.
Mas nunca o ultrapassou.
Era a forma dele se mover e de a mover a ela.
Não consegue virar-lhe as costas e ‘abandoná-lo’.
Caminha na sombra dele, ininterruptamente.
Quer deixar a luz ligada.
Para ela também.
A vontade não é tão grande como já foi.
Ainda acredita.
Pensa como seria.
Não abre mão disso.
É essa a armadura que veste. Sem olhar ao tamanho ou a modas convencionais.
O problema foi ele ter achado sempre que ela era forte de mais.
E ela não era.
Aquilo foi muito mais do que algum dia poderia suportar.
Nem sequer eram, foram ou ficaram amigos.
Já nem sequer o ama.
Mas não o consegue ultrapassar sozinha.
Um dia ela vai saber se o amor move mesmo montanhas.
E se ele era mesmo feito para ela.
Ainda ama o facto de pensar poder voltar para ele.
Não compreende esse facto.
Da mesma forma que não se compreende como é que Sansão amou tanto Dalila, ou porque é que enterraram o pote do ouro na ponta do arco-íris!!
Quer que o tango da vida lhe legende sem rodeios o que não sabe, soube ou saberá explicar.
domingo, 3 de agosto de 2008
Light things
Espaço virtual de escritas, leituras, opiniões, dissertações, críticas, abusos, diarreias mentais, provas da obstipação cerebral medíocre dos pensamentos de alguns, desentupimentos de sentimentos, libertação de emoções estranguladas…dá para tudo, basicamente.
Dá para o seu dono (se é que se pode alcunhar de dono o senhorio de um espaço onde não vigora nem vinga o direito da propriedade privada) e para todos os curiosos que o lêem, dragam, esmiúçam, retalham, interpretam, profanam e até ofendem.
Um blog é um Universo - depois de desonrado o propósito mais puro da sua nascença e prodigalizada bem-aventurança pode fazer-se e dizer-se tudo o que aos seus usuários apetecer e aprouver.
Aparece de tudo.
Louvores de quem gosta de nós e nos aprecia, flirts saudáveis entre panegíricos de carinho e de escrita, flirts nada salutares e até inoportunos, genuínas apreciações e autêntico interesse no que dactilografamos, provocações mais ou menos arquitectadas sobre o que pensamos, picardias sub-repticiamente desenvolvidas, divergências de opinião pouco saudáveis e com propósitos muito pouco escrupulosos, maledicências despropositadas e mal disfarçadas de pseudo-elogios em patranhas, ardis, astúcias e artimanhas pouco brilhantes.
Para isto se cria a censura (in blog).
Nada democrática e muito pouco consonante com o regime em vigor, mas conveniente, vantajosa e absolutamente necessária.
Não se publica apenas o que é bom e está em sintonia com a nossa opinião, mas também o discordante; não só o real e verídico, mas também o fantasiado…é este o propósito de um blog – conter o que ao dono lhe apetecer e estar disponível para ser lido, dissecado, esventrado e desvendado por outros e até por si mesmo, mas NUNCA para servir a mentira e a idiotice dos sem nome que abusam de um espaço não-seu para tecerem fios e tramas do que a ninguém interessa (nem mesmo a eles próprios!).
Este meu escancarar visa não só expor a nu o que se passa no meu espaço, mas também o que se passa no espaço dos outros, pois certamente não serei a única ‘vítima’ da parvoíce-cibernauta-anónima (excelente título para um grupo de auto-ajuda!)
(Acho que isto já foi escorrido por aqui algures, mas nunca é de mais relembrar para ajudar os sem-lugar a encontrarem o sítio onde pertencem – esta verdade metaforizada dos blogs aplica-se, infelizmente, a tantas outras circunstâncias da vida).
Dá para o seu dono (se é que se pode alcunhar de dono o senhorio de um espaço onde não vigora nem vinga o direito da propriedade privada) e para todos os curiosos que o lêem, dragam, esmiúçam, retalham, interpretam, profanam e até ofendem.
Um blog é um Universo - depois de desonrado o propósito mais puro da sua nascença e prodigalizada bem-aventurança pode fazer-se e dizer-se tudo o que aos seus usuários apetecer e aprouver.
Aparece de tudo.
Louvores de quem gosta de nós e nos aprecia, flirts saudáveis entre panegíricos de carinho e de escrita, flirts nada salutares e até inoportunos, genuínas apreciações e autêntico interesse no que dactilografamos, provocações mais ou menos arquitectadas sobre o que pensamos, picardias sub-repticiamente desenvolvidas, divergências de opinião pouco saudáveis e com propósitos muito pouco escrupulosos, maledicências despropositadas e mal disfarçadas de pseudo-elogios em patranhas, ardis, astúcias e artimanhas pouco brilhantes.
Para isto se cria a censura (in blog).
Nada democrática e muito pouco consonante com o regime em vigor, mas conveniente, vantajosa e absolutamente necessária.
Não se publica apenas o que é bom e está em sintonia com a nossa opinião, mas também o discordante; não só o real e verídico, mas também o fantasiado…é este o propósito de um blog – conter o que ao dono lhe apetecer e estar disponível para ser lido, dissecado, esventrado e desvendado por outros e até por si mesmo, mas NUNCA para servir a mentira e a idiotice dos sem nome que abusam de um espaço não-seu para tecerem fios e tramas do que a ninguém interessa (nem mesmo a eles próprios!).
Este meu escancarar visa não só expor a nu o que se passa no meu espaço, mas também o que se passa no espaço dos outros, pois certamente não serei a única ‘vítima’ da parvoíce-cibernauta-anónima (excelente título para um grupo de auto-ajuda!)
(Acho que isto já foi escorrido por aqui algures, mas nunca é de mais relembrar para ajudar os sem-lugar a encontrarem o sítio onde pertencem – esta verdade metaforizada dos blogs aplica-se, infelizmente, a tantas outras circunstâncias da vida).
domingo, 15 de junho de 2008
Miolo
É profundo o que sinto.
É enorme, está cavado bem fundo, bem lá no fundo. Em palmos ou peso é imensurável, mas em profundeza.....
Tudo o que vivo, transpiro e sinto é mensurável em profundidade. O resto não conta...ou melhor, conta, mas é anexo, apêndice.
O que existe de mais precioso é o que está guardado, cosido e costurado no mais íntimo e recôndito espaço de cada um de nós.
Porquê?
Porque o resto todos vêem, observam, contemplam, analisam, tocam, sem consentimento....o que está de fora, o corpo e os seus movimentos, gritos e atitudes estão ao alcance daqueles de quem gostamos muito, pouco ou mesmo nada. Não tem valor especial, não é distinto, é imitação de comportamento repetido em série vez após vez...
O que é único, específico, exclusivo e ímpar em cada indivíduo só se dá a conhecer a um número muitíssimo reduzido de pessoas: os privilegiados.
É dessas e com essas personalidades que se escreve a nossa vida. São eles que fazem parte dela, a compõem e compreendem. São os actores principais no meio de milhares de actores acessórios, acidentais e secundários.
É aos principais que abrimos a porta da frente e, ao mesmo tempo, a porta das traseiras e todas as janelas, frinchas, entradas, saídas, portões, grades, escapatórias, portagens (as quais, deliberadamente, tornamos gratuitas e sem ingresso obrigatório).
Destas almas tão importantes e oportunas não queremos nós separar-nos. Estão agarradas e são absolutamente necessárias....senão a quem poderíamos nós virarmo-nos do avesso? Quem nos iria aplaudir ou ralhar quando os holofotes da ribalta estivessem para nós virados? A quem haveríamos nós de evidenciar ou ofertar o nosso protagonismo? A resposta é fácil.....para quem gravita em torno de nós, no mesmo palco de partilha da vida, dos sentidos e sentimentos mais inócuos e castos. Neste nosso cenário onde não há distinção entre actor principal e secundário, onde todos escrevem história sem maior ou menor grau de omnisciência ou omnipresença. Quem pisa o palco é conhecedor, participa, escreve por linhas direitas e tortas, vive e revive. O ‘público’ é absoluta e necessariamente o mais desconhecedor, está ali por acréscimo (alguém tinha que pagar o bilhete). Estou-me nas tintas para os seus elogios, louvores, críticas, apupos, vaias ou aplausos. Não é destes que reza a minha história.
É enorme, está cavado bem fundo, bem lá no fundo. Em palmos ou peso é imensurável, mas em profundeza.....
Tudo o que vivo, transpiro e sinto é mensurável em profundidade. O resto não conta...ou melhor, conta, mas é anexo, apêndice.
O que existe de mais precioso é o que está guardado, cosido e costurado no mais íntimo e recôndito espaço de cada um de nós.
Porquê?
Porque o resto todos vêem, observam, contemplam, analisam, tocam, sem consentimento....o que está de fora, o corpo e os seus movimentos, gritos e atitudes estão ao alcance daqueles de quem gostamos muito, pouco ou mesmo nada. Não tem valor especial, não é distinto, é imitação de comportamento repetido em série vez após vez...
O que é único, específico, exclusivo e ímpar em cada indivíduo só se dá a conhecer a um número muitíssimo reduzido de pessoas: os privilegiados.
É dessas e com essas personalidades que se escreve a nossa vida. São eles que fazem parte dela, a compõem e compreendem. São os actores principais no meio de milhares de actores acessórios, acidentais e secundários.
É aos principais que abrimos a porta da frente e, ao mesmo tempo, a porta das traseiras e todas as janelas, frinchas, entradas, saídas, portões, grades, escapatórias, portagens (as quais, deliberadamente, tornamos gratuitas e sem ingresso obrigatório).
Destas almas tão importantes e oportunas não queremos nós separar-nos. Estão agarradas e são absolutamente necessárias....senão a quem poderíamos nós virarmo-nos do avesso? Quem nos iria aplaudir ou ralhar quando os holofotes da ribalta estivessem para nós virados? A quem haveríamos nós de evidenciar ou ofertar o nosso protagonismo? A resposta é fácil.....para quem gravita em torno de nós, no mesmo palco de partilha da vida, dos sentidos e sentimentos mais inócuos e castos. Neste nosso cenário onde não há distinção entre actor principal e secundário, onde todos escrevem história sem maior ou menor grau de omnisciência ou omnipresença. Quem pisa o palco é conhecedor, participa, escreve por linhas direitas e tortas, vive e revive. O ‘público’ é absoluta e necessariamente o mais desconhecedor, está ali por acréscimo (alguém tinha que pagar o bilhete). Estou-me nas tintas para os seus elogios, louvores, críticas, apupos, vaias ou aplausos. Não é destes que reza a minha história.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Solidão
É verdade que podemos estar cercados de um punhado de dezenas de pessoas e sentirmo-nos, incrivelmente, sós e isolados.
Mascarada e dissimulada de várias formas, figuras, feitios, retalhos e recortes, a solidão aparece furtiva e sorrateiramente, sem nos apercebermos, e instala-se de armas, arreios e bagagens, encostada e envolta em nós como gesso em perna partida ou nó de marinheiro bem ataviado que estrangula, aperta e enlaça o espírito, a consciência e o bem-estar.
Consideramo-nos, quase sempre, inexcedíveis, invencíveis, invictos e insuperáveis. Achamo-nos auto-suficientes e incrivelmente menos dependentes e pertencentes do que os outros. Gostamos de pensar que não precisamos de ninguém e adoptamos uma postura de ilha deserta, sem reconhecermos que seremos SEMPRE península habitada com braço agarrado a terra, assim como feto umbilicalmente preso e dependente da progenitora antes de ter respirado um autónomo bafejo de vida.
Sinto saudades de amar no formato mais completo de nos ligarmos a alguém e matarmos a solidão que morde silenciosa dentro de nós. Quando falo em amar, não falo de amor de amigo ou amor de pai, mãe ou irmã, mas de amor entre homem e mulher. Por muito bem que vivamos a sós, o que queremos mesmo é ter alguém para mimar e com quem partilhar a vida, seja lá tudo o que isso for. A melhor parte de nós é aquela que temos para oferecer sem pensar no receber: é a mais genuína, a mais rica e abonada, a mais autêntica, franca e intrínseca. É o que está incrustado e cravado em cada brecha de nós. É natural, não tem artifício ou aldrabice escondida. Não custa dinheiro, custa apenas entrega pura e absoluta sem lugar para feitios, orgulhos, defeitos, poderios e posses, mesquinhez ou outro rol de sentimentos subalternos homólogos.
Mascarada e dissimulada de várias formas, figuras, feitios, retalhos e recortes, a solidão aparece furtiva e sorrateiramente, sem nos apercebermos, e instala-se de armas, arreios e bagagens, encostada e envolta em nós como gesso em perna partida ou nó de marinheiro bem ataviado que estrangula, aperta e enlaça o espírito, a consciência e o bem-estar.
Consideramo-nos, quase sempre, inexcedíveis, invencíveis, invictos e insuperáveis. Achamo-nos auto-suficientes e incrivelmente menos dependentes e pertencentes do que os outros. Gostamos de pensar que não precisamos de ninguém e adoptamos uma postura de ilha deserta, sem reconhecermos que seremos SEMPRE península habitada com braço agarrado a terra, assim como feto umbilicalmente preso e dependente da progenitora antes de ter respirado um autónomo bafejo de vida.
Sinto saudades de amar no formato mais completo de nos ligarmos a alguém e matarmos a solidão que morde silenciosa dentro de nós. Quando falo em amar, não falo de amor de amigo ou amor de pai, mãe ou irmã, mas de amor entre homem e mulher. Por muito bem que vivamos a sós, o que queremos mesmo é ter alguém para mimar e com quem partilhar a vida, seja lá tudo o que isso for. A melhor parte de nós é aquela que temos para oferecer sem pensar no receber: é a mais genuína, a mais rica e abonada, a mais autêntica, franca e intrínseca. É o que está incrustado e cravado em cada brecha de nós. É natural, não tem artifício ou aldrabice escondida. Não custa dinheiro, custa apenas entrega pura e absoluta sem lugar para feitios, orgulhos, defeitos, poderios e posses, mesquinhez ou outro rol de sentimentos subalternos homólogos.
domingo, 25 de maio de 2008
Teoria da substituição
Quanto mais tempo passamos próximos de determinadas pessoas, mais facilmente ficamos saudosos de outras de quem nos afastámos sem saber bem porquê.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
É Amor


Namoravam há um mês, mais coisa, menos coisa.
Era sexta-feira e ela tinha um jantar com colegas de trabalho. Ele aproveitou que não podia ter a companhia dela e juntou-se com uns amigos para uma tainada.
Tinham feito um pacto. Porque o tempo parecia sempre pouco para estarem juntos, combinaram encontrar-se em casa dele onde ela iria passar o fim de semana. Há muito que lhe tinha dado uma cópia da chave de casa dele que queria também que fosse dela, para sempre.
Os jantares corriam bem. Entre uma garfada e outra uma sms de amor e um telefonema para matar saudades. As 24 horas do dia eram sempre poucas para o amor que sentiam. Estavam longe, mas arranjavam sempre forma de estarem unidos, assim, por telefone, ainda que o longe fosse a uns meros kms de distância.
Depois do jantar, ela foi a um bar. Dois copos de licor tragados e o cansaço numa combinação com excitação começavam a aflorar-lhe na pele. Decidiu mudar de planos. Em vez de o avisar quando estivesse a caminho de casa dele, conforme acordado, decidiu dizer-lhe só depois de lá estar.
Entrou em casa, acendeu a luz e reparou que no chão tinha uma folha A4. Acendeu a luz e rasgou um sorriso nos lábios. O bilhete rezava: ‘Só para te dizer’ e tinha uma seta para que virasse a folha onde se completava: ‘que te amo muito’.
Ainda de sorriso aberto e inebriado pela mensagem de amor e os copos de licor, começou a despir-se. Atirou a roupa por onde passava, acendeu um cigarro e sentou-se no sofá só de cuecas. Pegou no telemóvel e lembrou-se de lhe enviar uma sms a dizer ‘Bebi de mais e vim para minha casa, não estava em condições de ir para a tua’. Ele ficou ‘louco’ e ripostou com chamadas para o telefone dela. Ela rejeitava-as. A ideia de que ele pudesse perceber que ela estava em casa dele passou-lhe pela cabeça. Decidiu enviar nova sms a dizer ‘tou sem bateria, amanhã falamos’ e desligou o telefone. Apagou as luzes e começou a apanhar a roupa que tinha espraiado pelo chão. Atirou-a para trás do sofá, junto com a carteira e o maço de cigarros, despejou o cinzeiro e voltou a virar a folha A4 para a sua posição original. Às apalpadelas e sem ligar a luz, foi para o quarto e deitou-se.
Quase que conseguia adivinhar e ouvir os pneus do carro dele a chiar na entrada da garagem. Em minutos, ouviu a chave entrar na fechadura. Quase deixou de respirar para que ele não suspeitasse. Ouviu-o pousar a chave na consola do corredor, parar na porta da sala e encaminhar-se para o quarto. Acendeu a luz e, quando a viu, soltou um ‘se voltas a fazer isto, mato-te’ e num golpe de mestre de amor aliviado ‘atacou-a’ com beijos e cócegas que a fizeram gargalhar de feliz.
Fizeram amor como nunca tinham feito. No meio do acto mais perfeito que tinham concebido (ela ofegante em cima dele a fundirem-se num só) ele agarrou-a no pescoço como se a fosse esganar de amor, ao de leve, olhou-a nos olhos, profundamente, e perguntou ‘Sabes o que isto é?, é amor’.
Sim era amor. Foi amor que ela sentiu, naquele dia.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
As horas
Difusas, lentas, fugazes, ampliadas, dilatadas.
Insuficientes para explicar o inexplicável que vive cá dentro.
Os pensamentos que escorrem dentro e fora de nós.
O que tens, hoje?
Nada, tudo, não sei. (Resposta de retórica para pergunta do mesmo grau).
É o espreitar do avesso, o ver e o sentir o silêncio palpável cá dentro, entranhado, infiltrado e absorvido. Aquele que não se aclara na modorra de nós mesmos. Sentir o inexplicável que não se mede ou ajuíza em palavras. Não as há porque não decifram o que não sabemos que sentimos ou o que ignoramos sentir.
Há vontade, sede, avidez, ânimo, inflamação até. Mas é hoje? Ou terá sido ontem e agora já se esvaiu?
Não quero isto, quero aquilo. Vou fazer melhor. Mais e melhor.
Falar para quê? Coisas bonitas, suspensas, irrealizáveis, inconcretizadas? O tempo é de falar, mas também de agir.
Não há lugar para indecisões e banhos-maria. O que é, é. O que deve ser, será. O que foi, já era. Não volta e não se revive. Passou e está apagado como tinta invisível que não deixa marca. Porque se decidiu assim e não porque é, foi ou seja fácil.
Insuficientes para explicar o inexplicável que vive cá dentro.
Os pensamentos que escorrem dentro e fora de nós.
O que tens, hoje?
Nada, tudo, não sei. (Resposta de retórica para pergunta do mesmo grau).
É o espreitar do avesso, o ver e o sentir o silêncio palpável cá dentro, entranhado, infiltrado e absorvido. Aquele que não se aclara na modorra de nós mesmos. Sentir o inexplicável que não se mede ou ajuíza em palavras. Não as há porque não decifram o que não sabemos que sentimos ou o que ignoramos sentir.
Há vontade, sede, avidez, ânimo, inflamação até. Mas é hoje? Ou terá sido ontem e agora já se esvaiu?
Não quero isto, quero aquilo. Vou fazer melhor. Mais e melhor.
Falar para quê? Coisas bonitas, suspensas, irrealizáveis, inconcretizadas? O tempo é de falar, mas também de agir.
Não há lugar para indecisões e banhos-maria. O que é, é. O que deve ser, será. O que foi, já era. Não volta e não se revive. Passou e está apagado como tinta invisível que não deixa marca. Porque se decidiu assim e não porque é, foi ou seja fácil.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Inquietação
O que fazer quando nos desinquietam a alma e vêm bulir connosco em desassossego naquilo que estava sereno, quieto e dormente?
Existem ‘almas’ adormecidas( pensando nós que jaziam mortas e definitivamente carpido o seu incontestável luto) e que ressurgem do nada, para nos realimentar um fogo acreditadamente extinto e que...de repente....está lá. Voltou. Não se apagou. Vive. Revive. Abastece, energicamente, o que pensávamos morto, exangue e enterrado.
É a razão a puxar para um lado. O coração emotivo a pulsar para outro.
É o jogo do rebenta-a-corda (para algum lado há que tombar), da subida-ao-pau-de-sebo (infrutífera e estéril energia gasta para chegar ao cimo e forçosa queda escorregadia que nos traz ao fundo), do pião (que roda e gira em torno de si mesmo e cai redondo e confuso no mesmo sítio), dos dados do poker (é o seis que cobiçamos e é o um que aparece).
Não necessariamente tudo ao contrário ou antagónico do que intrinsecamente desejaríamos. Apenas diferente ou confusa e absolutamente inesperado. Ganha-se e perde-se. Aprende-se com isso - ou não fosse a vida feita de ganhos e ruínas, acertos e desmoronamentos. A verdade é só uma.
Esta sim, inquestionável – TAMBÉM SOMOS O QUE PERDEMOS.
Existem ‘almas’ adormecidas( pensando nós que jaziam mortas e definitivamente carpido o seu incontestável luto) e que ressurgem do nada, para nos realimentar um fogo acreditadamente extinto e que...de repente....está lá. Voltou. Não se apagou. Vive. Revive. Abastece, energicamente, o que pensávamos morto, exangue e enterrado.
É a razão a puxar para um lado. O coração emotivo a pulsar para outro.
É o jogo do rebenta-a-corda (para algum lado há que tombar), da subida-ao-pau-de-sebo (infrutífera e estéril energia gasta para chegar ao cimo e forçosa queda escorregadia que nos traz ao fundo), do pião (que roda e gira em torno de si mesmo e cai redondo e confuso no mesmo sítio), dos dados do poker (é o seis que cobiçamos e é o um que aparece).
Não necessariamente tudo ao contrário ou antagónico do que intrinsecamente desejaríamos. Apenas diferente ou confusa e absolutamente inesperado. Ganha-se e perde-se. Aprende-se com isso - ou não fosse a vida feita de ganhos e ruínas, acertos e desmoronamentos. A verdade é só uma.
Esta sim, inquestionável – TAMBÉM SOMOS O QUE PERDEMOS.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Portuguese pride
Cada povo tende a orgulhar-se da sua pátria à sua maneira e por diferentes motivos. Pelo menos, a maioria dos seus habitantes, já que alguns não se envaidecem ou entusiasmam por coisíssima nenhuma.
Já se falou aqui do brio nacional português. Há coisas que nos identificam ou que fazem com que nos reconheçamos, embevecidamente, como portugueses purinhos de gema: a rica gastronomia, o esplêndido sol do Algarve, o fado choradinho e a saudade (tudo sobejamente conhecido e apreciado além fronteiras ou, pelo menos, assim o queremos ver).
Poderíamos, ainda, acrescentar as características que gostamos de ‘vender’ aos outros que caracterizam a populaça deste cantinho à bordinha do mar assentado: os epítetos de descobridores, exploradores, aventureiros, conquistadores. Tudo verdade, HÁ UMA PORRADA de anos atrás! Desde há séculos, tem vindo a ser perder, perder, perder. Conquistar que é bom, nadinha de nada!
Já foi tempo. Agora também está tudo descoberto, não há recantos desconhecidos. Já tudo tem dono e os donos do mundo são…os donos do mundo e vão manter-se assim. A encontrar alguma coisa, serão mesmo os grandes a descobrir o que ainda podem ‘roubar’ (de colónias, ilhas e afins) aos pequenitos COMO NÓS. Depois de Macau, nada mais há de relevante para ‘levar’ daqui.
O fado português colou-se, imensamente, a nós e explica muitíssimo o nosso povo: cantiga de taberna, trova de sofrimento mais que sofrido, de tristeza de alma, de queixume e de lamúria, de pranto e choro desgarrado, de SAUDADE e mal de amor, de lavadeiras e pescadores e tudo o mais que está ligado ao mar, ao rio e às lágrimas. Dá para perceber que não sou fã de fado. Temos excelentes vozes, mas tenho preferência por registos musicais diferentes. Com choradinhos mais actuais sem tanto mofo. O mundo tem ‘problemas’ de hoje que pedem para ser cantados, para quê, continuamente, ‘chorar’ a dor de ontem? O fado modernizou-se alguma coisa (só na idade de quem o canta ou toca, basicamente), mas tem sempre um quê de ‘revisitância’ do passado, da Coimbra dos estudantes, da Lisboa e da Madragoa e, como não podia deixar de ser, da SAUDADE.
E, já agora, o que é que tem de especial termos uma palavra no nosso léxico, que ‘os outros’ não têm, para exprimir a falta que sentimos de alguém????!!!!! Uhhhhh… que especial! Que coisa fantástica e super fenomenal! Sim porque nós ‘temos saudade’ e os outros têm o ‘I miss you’ (sinto a tua falta) ou o ‘j’ai besoin de toi’ (preciso de ti) entre muitas outras expressões congéneres. Pensem bem o que é que preferiam? Que se lixe a palavra saudade, eu prefiro que me digam tudo o resto sem ser compactado numa única palavrinha! :)
Já se falou aqui do brio nacional português. Há coisas que nos identificam ou que fazem com que nos reconheçamos, embevecidamente, como portugueses purinhos de gema: a rica gastronomia, o esplêndido sol do Algarve, o fado choradinho e a saudade (tudo sobejamente conhecido e apreciado além fronteiras ou, pelo menos, assim o queremos ver).
Poderíamos, ainda, acrescentar as características que gostamos de ‘vender’ aos outros que caracterizam a populaça deste cantinho à bordinha do mar assentado: os epítetos de descobridores, exploradores, aventureiros, conquistadores. Tudo verdade, HÁ UMA PORRADA de anos atrás! Desde há séculos, tem vindo a ser perder, perder, perder. Conquistar que é bom, nadinha de nada!
Já foi tempo. Agora também está tudo descoberto, não há recantos desconhecidos. Já tudo tem dono e os donos do mundo são…os donos do mundo e vão manter-se assim. A encontrar alguma coisa, serão mesmo os grandes a descobrir o que ainda podem ‘roubar’ (de colónias, ilhas e afins) aos pequenitos COMO NÓS. Depois de Macau, nada mais há de relevante para ‘levar’ daqui.
O fado português colou-se, imensamente, a nós e explica muitíssimo o nosso povo: cantiga de taberna, trova de sofrimento mais que sofrido, de tristeza de alma, de queixume e de lamúria, de pranto e choro desgarrado, de SAUDADE e mal de amor, de lavadeiras e pescadores e tudo o mais que está ligado ao mar, ao rio e às lágrimas. Dá para perceber que não sou fã de fado. Temos excelentes vozes, mas tenho preferência por registos musicais diferentes. Com choradinhos mais actuais sem tanto mofo. O mundo tem ‘problemas’ de hoje que pedem para ser cantados, para quê, continuamente, ‘chorar’ a dor de ontem? O fado modernizou-se alguma coisa (só na idade de quem o canta ou toca, basicamente), mas tem sempre um quê de ‘revisitância’ do passado, da Coimbra dos estudantes, da Lisboa e da Madragoa e, como não podia deixar de ser, da SAUDADE.
E, já agora, o que é que tem de especial termos uma palavra no nosso léxico, que ‘os outros’ não têm, para exprimir a falta que sentimos de alguém????!!!!! Uhhhhh… que especial! Que coisa fantástica e super fenomenal! Sim porque nós ‘temos saudade’ e os outros têm o ‘I miss you’ (sinto a tua falta) ou o ‘j’ai besoin de toi’ (preciso de ti) entre muitas outras expressões congéneres. Pensem bem o que é que preferiam? Que se lixe a palavra saudade, eu prefiro que me digam tudo o resto sem ser compactado numa única palavrinha! :)
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Nó cego
Eu, Nádia-durmo-bem-obrigada, venho aqui para dizer que as pessoas complicam muito. Não eu, não tu, não ele, não ela, mas todos. Tornamo-nos verdadeiros artistas na arte da auto comiseração e do sentir pena, dor ou pesar de nós mesmos.
É verdade que não existe nenhuma lista que nos tenha sido dada quando fomos crianças ou andámos na escola. Ensinam-nos o a,e,i,o,u; o abecedário; o 1,2,3…e o b-a-bá…mas e o resto? Como é que eu me defendo dos outros e principalmente de mim mesmo? Não. Isso, ninguém nos ensina, não está num manual escolar, não há disciplina no currículo da escolaridade obrigatória que se debruce sobre o assunto nem lições pré ou pós pagas que possamos comprar para nos salvarmos. Sim porque é de salvação que precisamos quando nos entregamos de corpo e alma ao sentimento de piedade por nós próprios e alimentamos uma abundância de complicações, dificuldades, embrulhadas e alhadas. O perigo espreita dentro de nós e entre nós. São os secretos segredos, os enredados enredos, os ficcionados bruxedos, os (re)inventados problemas, os cadilhos, atilhos nós e sarilhos, as desalinhadas desordens, os alvoroçados rebuliços, as confusas e cozinhadas trapalhadas, as culpadas culpas e desculpas, os apavorados medos e os receados receios sem direito a pausa, intervalo ou recreio.
Quando, no meio disto tudo, nos esquecemos de nós e dos outros?, - dos que nos rodeiam, dos que importam, dos que nos amam, dos que nos acarinham, dos que nos ajudam - e passamos a pensar mais como aqueles que complicam, agravam, ferem e confundem? Incapacidade humana e quase inata, natural e congénita (porque nunca recebemos ensinança em contrário) de ligar o ‘descomplicómetro’ e viver bem…não na perfeição, com algum caos, mas bem: em equilíbrio, com sensatez, classe, sintonia, harmonia, charme, juízo, brio, ânimo, coragem, bravura, audácia, arrojo e cavalheirismo.
Não basta dizermos que somos bons, temos que sentir que o somos mesmo e prová-lo: a nós mesmos, em primeiro lugar, e depois aos outros que nos ajudam a acreditar. É uma forma bonita de mostrarmos gratidão e reconhecimento a quem nos estima – gostarmos de nós próprios, sem esquecer de demonstrar, também, que somos capazes de prezar os outros. Precisamos desatar o nó cego que tão bem (mal) laçamos e que nos enforca a força de viver numa vida que é sempre curta e minguada para tudo o que desejaríamos.
Se não podemos ser fortes, porém tão-pouco sabemos ser débeis, somos derrotados. A vida, aqui, trata do assunto por nós e não pede conselho, sugestão ou parecer. Se for com o nosso consentimento e consenso, a vida da nossa merda de vida fica abundantemente mais facilitada. Sentirmo-nos invencíveis é uma questão de defesa, sentirmo-nos vulneráveis é uma questão de ataque – tudo reside em pormo-nos a jeito (ou à cautela) nas nossas vivências e desejos, ambições e paixões, pretensões e aspirações. Se dermos luta, ela arreia. Ganhamos nós, ela perde, ainda que nos roube e usurpe muita coisa pelo caminho.
É verdade que não existe nenhuma lista que nos tenha sido dada quando fomos crianças ou andámos na escola. Ensinam-nos o a,e,i,o,u; o abecedário; o 1,2,3…e o b-a-bá…mas e o resto? Como é que eu me defendo dos outros e principalmente de mim mesmo? Não. Isso, ninguém nos ensina, não está num manual escolar, não há disciplina no currículo da escolaridade obrigatória que se debruce sobre o assunto nem lições pré ou pós pagas que possamos comprar para nos salvarmos. Sim porque é de salvação que precisamos quando nos entregamos de corpo e alma ao sentimento de piedade por nós próprios e alimentamos uma abundância de complicações, dificuldades, embrulhadas e alhadas. O perigo espreita dentro de nós e entre nós. São os secretos segredos, os enredados enredos, os ficcionados bruxedos, os (re)inventados problemas, os cadilhos, atilhos nós e sarilhos, as desalinhadas desordens, os alvoroçados rebuliços, as confusas e cozinhadas trapalhadas, as culpadas culpas e desculpas, os apavorados medos e os receados receios sem direito a pausa, intervalo ou recreio.
Quando, no meio disto tudo, nos esquecemos de nós e dos outros?, - dos que nos rodeiam, dos que importam, dos que nos amam, dos que nos acarinham, dos que nos ajudam - e passamos a pensar mais como aqueles que complicam, agravam, ferem e confundem? Incapacidade humana e quase inata, natural e congénita (porque nunca recebemos ensinança em contrário) de ligar o ‘descomplicómetro’ e viver bem…não na perfeição, com algum caos, mas bem: em equilíbrio, com sensatez, classe, sintonia, harmonia, charme, juízo, brio, ânimo, coragem, bravura, audácia, arrojo e cavalheirismo.
Não basta dizermos que somos bons, temos que sentir que o somos mesmo e prová-lo: a nós mesmos, em primeiro lugar, e depois aos outros que nos ajudam a acreditar. É uma forma bonita de mostrarmos gratidão e reconhecimento a quem nos estima – gostarmos de nós próprios, sem esquecer de demonstrar, também, que somos capazes de prezar os outros. Precisamos desatar o nó cego que tão bem (mal) laçamos e que nos enforca a força de viver numa vida que é sempre curta e minguada para tudo o que desejaríamos.
Se não podemos ser fortes, porém tão-pouco sabemos ser débeis, somos derrotados. A vida, aqui, trata do assunto por nós e não pede conselho, sugestão ou parecer. Se for com o nosso consentimento e consenso, a vida da nossa merda de vida fica abundantemente mais facilitada. Sentirmo-nos invencíveis é uma questão de defesa, sentirmo-nos vulneráveis é uma questão de ataque – tudo reside em pormo-nos a jeito (ou à cautela) nas nossas vivências e desejos, ambições e paixões, pretensões e aspirações. Se dermos luta, ela arreia. Ganhamos nós, ela perde, ainda que nos roube e usurpe muita coisa pelo caminho.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Sensibilidade e bom senso
Sentir.
Por fora é: uma canela esfolada num patim distraído; um dedo picado numa agulha marota, que a vista cansada já não vê como antes; um braço mordido pelo ferrão de uma abelha que fez do derradeiro ataque a sua morte fatal; o rabo dorido sentado na desconfortável cadeira, horas a fio; o ardor nos olhos das gotas prescritas que nos fazem chorar; a dor na barriga de tanto rir de uma galhofa pegada; o prurido da alergia aos morangos silvestres que nos alertaram para não comermos; a picada do espinho da rosa mais bela até hoje oferecida; uma língua queimada com a água fervida do chá das cinco; um toque macio dos lençóis de seda na pele enrugada; uma brisa esvoaçante no cabelo que emaranhado se agita; um dente do siso dorido e teimoso que não dá mais juízo; o prazer no tímpano da música clássica no volume perfeito; um beijo suave de amor que faz a pele eriçar.
Por dentro é: a pena causada pela morte que furta a vida sem a trazer de volta; o desespero de amar e não ser amado; a angústia de querer ser aceite e ser desprezado; ter os nervos em franja e à flor da pele; a vontade de agradar e ser correspondido; o amor sentido por quem nos faz bem; o amor sentido por quem (até) nos fez mal; a alegria de viver e nos sentirmos vivos; a adrenalina sentida numa situação de perigo; a raiva anciã que nos alimenta o corpo; a benevolência com os erros entre pais e filhos; o conformismo perante a perda do irrecuperável; o regozijo de plantar uma semente e vê-la dar fruto; o medo do barulho nocturno lá fora de que o mal esteja à espreita.
Todos sentimos de forma diferente. Alguns de nós expressamo-lo facilmente, outros menos. É importante sentir, mas não menos importante é mostrar. De que adianta sentir sem poder demonstrar, gritar, falar, exprimir, fazer? Respeitar os sentimentos e as sensibilidades alheias é coisa para não esquecer. Sem grandes críticas ou juízos de valor. Não somos iguais, porque haveríamos de ter sensibilidades iguaizinhas como duas gotas de água? Temos que coroar o bom-senso para que ele impere. A receita para isso é a velha máxima: ‘A minha liberdade termina quando começa a liberdade dos outro’. Entendamos liberdade como ‘espaço’ no sentido mais lato ou dilatado do termo. É o espaço físico, moral, intelectual, emotivo, interior de cada um que não se mede com fita métrica com resultado em metros quadrados. Cada um tem o direito a sentir como quiser sem que as fronteiras desse sentir sejam alguma vez invadidas por falsas, intrometidas ou intrusas interpretações de quem não sabe, vê, lê, vive, ouve, absorve e sente como nós.
Por fora é: uma canela esfolada num patim distraído; um dedo picado numa agulha marota, que a vista cansada já não vê como antes; um braço mordido pelo ferrão de uma abelha que fez do derradeiro ataque a sua morte fatal; o rabo dorido sentado na desconfortável cadeira, horas a fio; o ardor nos olhos das gotas prescritas que nos fazem chorar; a dor na barriga de tanto rir de uma galhofa pegada; o prurido da alergia aos morangos silvestres que nos alertaram para não comermos; a picada do espinho da rosa mais bela até hoje oferecida; uma língua queimada com a água fervida do chá das cinco; um toque macio dos lençóis de seda na pele enrugada; uma brisa esvoaçante no cabelo que emaranhado se agita; um dente do siso dorido e teimoso que não dá mais juízo; o prazer no tímpano da música clássica no volume perfeito; um beijo suave de amor que faz a pele eriçar.
Por dentro é: a pena causada pela morte que furta a vida sem a trazer de volta; o desespero de amar e não ser amado; a angústia de querer ser aceite e ser desprezado; ter os nervos em franja e à flor da pele; a vontade de agradar e ser correspondido; o amor sentido por quem nos faz bem; o amor sentido por quem (até) nos fez mal; a alegria de viver e nos sentirmos vivos; a adrenalina sentida numa situação de perigo; a raiva anciã que nos alimenta o corpo; a benevolência com os erros entre pais e filhos; o conformismo perante a perda do irrecuperável; o regozijo de plantar uma semente e vê-la dar fruto; o medo do barulho nocturno lá fora de que o mal esteja à espreita.
Todos sentimos de forma diferente. Alguns de nós expressamo-lo facilmente, outros menos. É importante sentir, mas não menos importante é mostrar. De que adianta sentir sem poder demonstrar, gritar, falar, exprimir, fazer? Respeitar os sentimentos e as sensibilidades alheias é coisa para não esquecer. Sem grandes críticas ou juízos de valor. Não somos iguais, porque haveríamos de ter sensibilidades iguaizinhas como duas gotas de água? Temos que coroar o bom-senso para que ele impere. A receita para isso é a velha máxima: ‘A minha liberdade termina quando começa a liberdade dos outro’. Entendamos liberdade como ‘espaço’ no sentido mais lato ou dilatado do termo. É o espaço físico, moral, intelectual, emotivo, interior de cada um que não se mede com fita métrica com resultado em metros quadrados. Cada um tem o direito a sentir como quiser sem que as fronteiras desse sentir sejam alguma vez invadidas por falsas, intrometidas ou intrusas interpretações de quem não sabe, vê, lê, vive, ouve, absorve e sente como nós.
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