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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Depois (Parte III)

A Madalena olha para o Luís e os olhos interrogam, ‘O que se passa?’ e a merda da mala decidida que não lhe sai da frente só para a desafiar!

O Luís diz, ‘Vou-me embora. Já não te amo.’ Pega na maldita mala e bate a porta atrás dele, deixando-a confusa.

A Madalena? A Madalena fica sem chão, sem tecto, sem paredes, sem cadeira; perde a força e não tem onde se apoiar. Tentem caminhar com as pernas bambas e vão ver o que vos acontece! Pensa ‘Mas o que vem a ser isto?, vem, não!, veio…porque já aconteceu e ninguém se lembrou de me avisar para me defender!’ O que é que falhou?, Onde ficam o amor?, e a cumplicidade?, e o carinho?, e as noites escaldantes de sexo?, sim….agora menos, mais dores de cabeça a desculpar a falta de vontade, a decrescente correria para chegar a casa, as leituras a meias já adormecidas e olvidadas pelo cansaço, o disco de Barry White que já não tocava, a comida requentada em vez do jantar fora d’ horas,… e depois?? Não significava que deixara de amar o Luís!

Sentia-se incompreendida e deixada de lado no prato como a gordura indesejada do bife. Vinham as desculpas ‘Se calhar…’, logo depois a culpa ‘E se eu tivesse...’. A mania de ter que achar explicações e soluções para as coisas e não aceitar o que mal que nos sai na rifa! E depois de tudo, ainda cabia a esperança de que a mala estivesse confusa, que ansiasse o regresso, que se arrependesse, que ainda amasse; o desejo premente que o telefone tocasse e fosse o Luís que a adorava e não vivia sem ela; que o perdão surgisse quando menos se esperava, que a vida fosse mãe e não mais madrasta.
Quantas vezes a Margarida amou com a certeza que era para sempre? Será que ela e o Luís ainda se adoravam no final do dia?

O tempo.
Só ele curou a ferida da Margarida. Levou com ele os fiapos de ansiedade, as sobras de esperança, a réstia do amor que sobrara e os pózinhos de pena que por si sentira.
A Madalena continua a ir ao mesmo bar, quando o dia não corre bem. Mas esta?, … esta é a Madalena do depois, definitivamente, diferente do antes e do durante. Não é pior….só que está mais 'crescida'. Ainda sabe amar e disso não abdica. Sabe que a vida não é sempre má nem sempre boa. É oscilante, vacilante e variável. Sabe que devemos estar preparados para tudo, mesmo quando esse tudo parece perfeito e tão prometedor. Mesmo assim, continua a acreditar e essa foi a lição mais importante.

Durante (Parte II)

Algumas saídas, encontros fortuitos e quentes depois, três semanas volvidas e viviam juntos. Bem…não oficialmente, mas ele ia ficando, a escova de dentes a acasalar com a dela no lavatório, a espuma de barbear junto aos tampões para dias de muito fluxo, a roupa interior junto à dela no estendal (e os vizinhos a comentar), os trocos misturados no ‘despeja-bolsos’ à entrada do hall. E, mais tarde, tudo! Os livros, os pertences, a roupa toda, o cd preferido do Barry White, os ténis para o jogging do final da tarde (sim, porque aquele (quase) abcesso abdominal ia ter que desaparecer!).
Davam-se bem. Liam livros a meias ao deitar, cozinhavam a altas horas da noite para alimentar as tórridas maratonas de sexo, eram compreensivos, saudavelmente dependentes, ligavam-se a toda a hora quando longe um do outro, juravam amor eterno na frente de todos. Fazia sentido juntos, tudo parecia pior separados. Muitas flores, presentes e carinhos à mistura. A pressa de chegar a casa só para se verem. Os amigos deixados de lado por não aprovarem e a voz na cabeça da Madalena a concordar com tudo, cada vez mais alta.
O miolo da questão é que ela o amava. O resto não importava. Acreditava no amor do Luís e retribuía de volta. Não se arrependia de nada, mesmo nos dias em que parecia ou pareciam cansados. A vida é mesmo assim. O tempo para amar parece sempre pouco e aparecem sempre coisas pelo meio para nos distrair: o trabalho, a família, os problemas, o distanciamento justificado. Não se ia deixar abater por uns pormenorzitos. Sempre ouvira dizer That’s the way life is. Hoje menos bom, amanhã melhor. O importante era amar e saber que amava mesmo. Afinal de contas, achava que nada podia correr mal.

A chave entra na ranhura da fechadura perra da porta da entrada (a lembrá-la que precisa de óleo há mais de meio ano), uma volta para a direita, escancara-se assim, simples. A Madalena vê a mala. Atrás dela o Luís. Agora, ainda, com o olhar sereno, mas não apaixonado.

Antes (Parte I)

A Madalena é normal, da forma como as mulheres sabem ser. É gira sem parecer uma Barbie. É independente, vive sozinha e gosta disso. Tem muitos amigos … verdadeiros, verdadeiros, poucos…como toda a gente. Sabe estar bem consigo mesma.
Quando o dia não corre bem ou podia ter corrido melhor, gosta de se ‘esconder’ num bar para tomar uma bebida apaziguante. Ouve Jazz e sabe-lhe pela vida fumar um cigarro pensativo.
Está disponível de forma saudável e….disponível! Não gosta de engates pré cozinhados nem sequer dos do acaso, embora já tenha passado por lá um punhado de vezes. Foi assim que conheceu o Luís.
Os amigos próximos não aprovaram, ‘Não faz o teu tipo, mereces melhor, olha lá bem para ele!, não é nada simpático’…etc, etc, etc.
A Madalena fez orelhas moucas. Que lhe importava a opinião dos outros quando a vida era dela e de mais ninguém?

Talvez até tivessem razão. Ele não é uma estampa, não faz parar o trânsito, é introvertido para além da conta, a cara marcada por um problema de bichas, a sobrancelha cerrada (‘Graças a Deus não unida, tipo andorinha em desenho da pré-primária!’), o canino esquerdo, levemente, encavalitado no incisivo, uns 5 kgs a mais numa considerável protuberância abdominal, a calvície um tantinho precoce, baixo de mais para a estatura dela, mas os olhos?, os olhos valiam tudo: doces, amendoados, hipnóticos…o olhar sereno, prometedor, penetrante e apaixonado foi o que a cativou e a fez avançar e não recuar.