segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Motherhood*

(Desabafos de mãe...apenas isso e só isso)

A maternidade é algo para o qual nascemos impreparadas por natureza. Não há manual de instruções em pdf, papel ou outro formato qualquer. Ouvimos conselhos, aulas preparatórias, lemos artigos, panfletos, brochuras e livros para tudo e mais alguma coisa, mas ninguém adverte para este mundo novo. Um filho é um marco: o antes de e o depois de.

Lembro como se fosse hoje, ou não tivesse pouco tempo passado, de entrar na sala de parto, às 21.00h do dia 9 de Agosto, com medo, mas acima de tudo ansiosa, expectante. Três puxóes e apertos mal dados, ventosas usadas, quinze minutos mais tarde conheci aquele pequeno ser cinza-arroxeado pousado em cima da minha barriga. O meu filho. Com a beleza (in)característica de qualquer outro recém-nascido. O meu filho. Levado num ápice para uma saleta contígua, o choro tardio a aliviar uma mãe, a fim de ser limpo de 9 meses de líquidos e similares. Uma eternidade. Enquanto isso, limpa-se sangue de mãe, cose-se o que se abriu, hormonas incontroladas e fluídos desarranjados ficaram, aqui está o bebé: ‘Feito. Estás por tua conta. Desenrasca-te.’

A mudança avassaladora: nunca tinha notado tão forte o medo da morte ou doença, de não estar ali até ao fim ou para quando fosse preciso; nunca antes tinha sentido que tinha alguém dependente de si, a 1000%, que o bem-estar de um ser, parte de si, era da sua lavra; nunca tinha sentido o dever de valer a alguém no choro desconhecido de causa, na doença, na educação, na motivação; nunca antes ponderara o medo iminente de ter que o fazer sozinha.
E a vida nunca mais foi a mesma.

Os primeiros choros por tudo e por nada: por mudar uma fralda, por um banho, por vestir, por despir, por fome, por cólicas, por sono...todos enigmáticos, sem se saber o motivo e sempre a acharmos que é incompetência de mãe-de-primeira-viagem: o rio de lágrimas fácil no canto do olho.
É o mundo das fraldas, dos biberons, tetinas e esterilizadores, da ânsia pelo aparecimento do cocó de um filho, obstinadas que estamos com cor, consistência e frequência!; dos soros, pomadas, cremes e unguentos, do leite e da amamentação....Ahhh...a amamentação que aprendemos ser crucial para a vida, na crença provada de que bebé que amamenta está protegido por uma ‘bolha de imunidade’ para o que der, vier e aparecer. As dores?! Excruciantes, agulhas espetadas nos mamilos em ferida, em cada sucção, arroxeada a mão que aperta a almofada para conter grito e choro...o pavor de passar pelo mesmo, apenas 3 horas depois...E as noites? Nunca dormidas, só dormitadas. A cabeça vazia, oca. Tira a mama para fora, aperta a almofada e reza para que não seja de morrer...só desta vez. Ai as costas, ‘que não tenho posição, que dores e não posso tomar analgésico forte, o amamentar não permite’; muda a fralda, deita no berço. A cabeça não posou na almofada ainda, já ‘dorme’ sem respirar! com medo que até isso acorde o menino! Dez minutos mais tarde, rabujou, acorda, espreita ‘mas o que foi agora?’, tapa as mãozinhas inquietas e geladas, volta a dormir ou o que se parece com isso, o choro, meia hora depois, foi o que lhe pareceu, ‘não! Já passaram 3 horas, mama, outra vez!!’ É com esta cadência que passam os dias: mamar, banho, lava e esteriliza coisas, adormece (ao colo, não quer; passa para o berço , chora,; põe na espreguiçadeira e embala – grita; volta para o colo, embala; os braços dormentes do peso, canta....esgota o repertório, inventa!, que já também a mim me apetece chorar que o meu nome do meio é cansaço!). Já não se lembra a última vez que lavou os dentes (terá sido ontem ou já lavei hoje?), o pijama é a indumentária, o prato do dia....-a-dia, já para não falar de um banho....Ahhhh.... o prazer de um banho quente e demorado. Perdeu conta às vezes que arriscou tamanha façanha e saiu, ensaboada, com medo que a criança abafe num choro convulso, ‘mas porque é que só dorme sonos de passarinho?, quem me dera a mim dormir, dormir...’ . Até o banho é consigo própria negociado! ‘ tinha tempo de tomar agora, mas...e depois?....como seco o cabelo? Ele vai acordar....ai se acorda com um espirro não há-de acordar com o secador?!, mas que merda ainda não terem inventado estas coisas versão rápida e silenciosa! Mas o homem já não andou na lua! Apre! Melhor não lavar. Prende-se hoje, lava-se amanhã, e amanhã, e amanhã....’
Não se sente bonita, cheirosa, limpa como antes, o luxo de um banho-tomado-à-gato ao final do dia a par de cogitar, sequer, numa dejecção que não seja a do filho nascido, borratada a cara com um bocado de pó para disfarçar a pele branco-esverdeada, anti-olheiras e rímel para não parecer desleixada vai ter que servir. E o medo? Continua. O medo de falhar, de não ser good enough, de ficar só, de se sentir só e cansada como se sente agora. E a culpa. Mas só?, porquê? com um filho tão lindo!? Quem disse que a licença de maternidade compreende umas belas férias, merecia ser decapitado! Ansiamos por descanso, companhia, que alguém chegue a casa do trabalho e nos salve, nos mime, nos dê atenção, que nos ‘salve’, todos os dias, com paciência, carinho, amor, que divida tarefas connosco e espante inseguranças para podermos olhar, apenas olhar, o filho que amamos sem ser a correr.
Para uma super-mãe, que só é super antes de o começar a ser (na teoria todas somos) ou algum tempo depois de o ter sido (se é que me entendem), é preciso um super-pai que nos ature....a nós e às nossas merdas de mãe.

Meaning love?

Desilusões amorosas todos temos. Desde tenra idade e precoce infância aprendemos a amar de forma distinta. E tão diversa é esta forma se se trata de humano em versão macho ou versão fêmea. 90% do mulherio é todo virado para o Romantismo, para as comédias românticas a par das tragédias gregas, para as flores e os mares de rosas ou tulipas (cada qual escolha a flôr que quiser), para o folclore dos poemas de amor, para as atenções redobradas com a pessoa que amam, para os slows-dor-de-corno que tocam na rádio. Anulam-se prazeirosamente em prol da sua cara-metade, que é qualquer uma com quem partilhem vida, naquele momento. Aborboletam tudo, pintam momentos de arco-íris, enfeitam com lantejoulas, purpurinas e gloss cor de lollypop toda e qualquer patranha que lhes contem ao ouvido, desde que venha em versão voz de mel sussurrada ao ouvido. São felizes assim. Se em duas torradas do pequeno-almoço, que fazem, uma se queima ....é essa que comem, e oferecem a boa ao seu ‘amorzinho’, se as laranjas espremidas só dão para copo e meio de sumo é o meio que bebem, o cheio já sabem para quem vai, se há trinta tarefas para fazer porque não fazer 25 e deixar apenas 5 para ele (que anda tão cansado)?

As mulheres que assim são, existem mesmo! São genuínas. Não mentem nem fazem, como se ouve por aí, para depois dizer que fazem. Amam. Dão tudo. São felizes assim. A cuidar, mimar, tratar, nutrir, bem-querer. Mas gostam de reconhecimento, não de agradecimento. RECONHECIMENTO. O amor que sentem, define-as. Porque acreditam no que lhes dizem, nas promessas siciadas de protecção de um amor-para-sempre indestrutível e inderrubável. Palermas são pois não aprendem NUNCA a acreditar, sim, no que vêem e não no que ouvem.

Não olvidada esta máxima, tão mais facilitada a vida. Palavras leva-as o vento, toda a vida se ouviu dizer. E se as palavras não condizem com o que vemos ser feito, qual é a dúvida??? A culpa é nossa e só nossa. As consequências também, porque quem diz o que não sente, age em conformidade com isso e o sofrimento incutido nos outros que os amam passa ligeira e com tamanha leveza esfumaçando promessas vãs feitas sem pensar ou sentir, desejos fortuitos compreendidos como para toda a vida que, para nós, era longa e eterna. Tudo acaba, de forma abrupta, sem direito a explicação, respeito, consideração pelo amor vociferado, nunca sentido como outrora interpretámos. Matam-nos as esperanças, dilaceram-nos projectos, esquartejam-nos o que pensámos ter havido de bom e dizem-nos que nunca existiu e que nunca bastou!!
Não teremos vivido ambos a mesma vida?, não teremos passado pelas mesmas experiências?. Não teremos habitado a mesma casa,partilhado famílias, sofá, mesa e cama? Não. Um disse o que nunca chegou a sentir, falou do que nunca esteve disposto a fazer, prometeu o que nunca fez tenção de cumprir. Outro interpretou à letra e junto ao peito o que entendeu e acreditou ser verdadeiro, sem coragem para jamais pôr em causa. Na ruptura, um está repleto de certezas e sem recordações, outro aprende a viver vazio de translúcidas memórias não esquecidas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

(Recém) vida de uma (recém) mãe (recém) solteira

Ainda está fresca numa expectante e feliz memória a imagem de mulher sentada na sanita à espera de um resultado que a medo, muito medo se desejava positivo. Não podia crer que pudesse acontecer-lhe ficar de esperanças assim, tão fácil quando há já tento tempo se mentalizara que poderia amar filhos de outro e nunca um seu a que pudesse ousar chamar ‘de verdade’. Dez minutos depois de testado o fio amarelo escorrido por um pauzinho adivinhatório conseguiria descortinar se o destino lhe reservara o sinal – ou +. Mas quais dez minutos!....um minuto depois apresentou-se um +. Incrédula, leu e releu as instruções. Virou-as de trás para a frente, de cabeça para baixo. Depressa pensou ‘deve ser assim... aparece o +, mas passados dez minutos passa para –‘. Esperou, fumou e, esperou....mais de meia hora! duas priscas mais tarde, resolveu levantar-se da sanita ao mesmo tempo que absorvia a inacreditável notícia....estava GRÁVIDA.

Um turbilhão de emoções afloraram em cada poro, em cada pêlo. Estava apavoradamente feliz. Tanta inveja tinha sentido da irmã, sabedora de uma gravidez sem contar, apenas pouco mais de uma semana antes. A primeira pessoa a quem ligou, inusitadamente, foi ao futuro cunhado. Tinha sido o prenunciador: fora por seu incentivo que, naquele dia, ao final da tarde, de um penúltimo dia de Dezembro , tinha parado o carro, entrado numa farmácia e comprado o amedrontado teste. O que pensar? O que fazer? Parar de fumar isso era certo e tinha que ser já! Contar a quem? E se não for verdade? Queria acreditar que sim. A vida tinha-lhe trazido um presente de Natal tardio....o melhor de sempre. Será que merecia tamanha oferenda nunca equiparada ao incenso, à mirra e a todo o ouro dos magos? Isso!, muito melhor do que isso, trouxera-lhe o menino.

Depois do primeiro choque, a família. Dois netos, dois sobrinhos, dois filhos....e de uma só vez. Que interessavam, nos tempos de agora, as divergências desencontradas do dia a dia, o desacerto de agulhas que nunca deixaram de apontar no mesmo sentido?, acreditava ela. Era o fim desejado, o culminar de um amor nunca posto em causa, independentemente de tudo. Era a felicidade a abraçar uma casa, a confortar e unir uma família fermentada e acrescentada pelo que de mais precioso pode advir de duas pessoas a amar em uníssono: um filho. Não há lexema, língua ou palavras que expliquem. Esperava-se uma exfusiante resposta. Veio em formato comedido, a medo e decidiu entender-se porquê. Traduziu-se, mais tarde, o verdadeiro e indecifrável motivo. Não esperado ou imaginado. Dilacerante. Escreveu assim por ser esta uma narração omnisciente e omnipresente numa primeira pessoa que prefere deixar este texto assim: aberto, esperançoso, cheio de potencialidades, que pudessem sem reescritas e não tenham sido vividas. Assim.