segunda-feira, 28 de abril de 2008

As horas

Difusas, lentas, fugazes, ampliadas, dilatadas.
Insuficientes para explicar o inexplicável que vive cá dentro.
Os pensamentos que escorrem dentro e fora de nós.
O que tens, hoje?
Nada, tudo, não sei. (Resposta de retórica para pergunta do mesmo grau).
É o espreitar do avesso, o ver e o sentir o silêncio palpável cá dentro, entranhado, infiltrado e absorvido. Aquele que não se aclara na modorra de nós mesmos. Sentir o inexplicável que não se mede ou ajuíza em palavras. Não as há porque não decifram o que não sabemos que sentimos ou o que ignoramos sentir.

Há vontade, sede, avidez, ânimo, inflamação até. Mas é hoje? Ou terá sido ontem e agora já se esvaiu?
Não quero isto, quero aquilo. Vou fazer melhor. Mais e melhor.
Falar para quê? Coisas bonitas, suspensas, irrealizáveis, inconcretizadas? O tempo é de falar, mas também de agir.

Não há lugar para indecisões e banhos-maria. O que é, é. O que deve ser, será. O que foi, já era. Não volta e não se revive. Passou e está apagado como tinta invisível que não deixa marca. Porque se decidiu assim e não porque é, foi ou seja fácil.

domingo, 20 de abril de 2008

Queima!!

Todos já passámos por isto. Estilos e formas de viver, estar, vestir distintas. É nestas últimas que me foco hoje: as que dizem respeito ao vestir. Assunto que tem muito que se lhe diga e, na maioria das vezes, ficamos mesmo sem nada para dizer tamanha é a perplexidade perante o que vestem e investem os outros em coisas-que-não-lembra-o-diabo! O que seria do amarelo se amassemos, apenas, as outras cores?…sim, é verdade, mas não precisamos de gostar só do amarelo-canário ou do amarelo-expectoração!

O cenário é idílico, de prazer e edénico. Somente votados às baboseiras e derretimentos amorosos com carícias rentes, encostadas e espalhadas, cada vez mais derramadas e atrevidas. O início é tão bom e perfeito. O do namoro.
O parceiro é o melhor, o mais gracioso, o mais carinhoso, o mais bonito, o mais atrevido, arrojado e inventivo (no bom sentido…..porque no mau também é bom sê-lo). É o mais tudo até (….)

(…) que chega o augurante dia em nos aparece com AQUELE CHINELO de enfiar o dedo e sola quase de cunha, aquele calção de praia (que ele diz que é calção, mas no fim das contas é SUNGA (para não lhe chamar o que é na realidade - XUNGA!)), a meia branca pé-de-gesso com sapato biqueira bem quadradadona ou abicudada e pele cor de pão-de-ló (à qual eles gostam de chamar ‘CAMEL’ - horrenda – ‘essa merda dessa cor existe’????? Será que é difícil entender que só existem 3 cores POSSÍVEIS para sapatos: preto, castanho ou bordeaux?!….ok, 4..hoje estou mãos-largas e deixo entrar na roda o azul-marinho!)) ou aquele tenebroso blazer de pele (‘um clássico intemporal, muito vintage’, sendo as palavras anteriores, entre aspas, forçosamente compreendidas como sinónimo de ‘azeiteiro’ e nada mais pomposo do que isso) e, só para rematar, a tradicional e imprescindível camisa preta (comprada num acto de declarada insanidade, só pode!), ligeiramente cintada e de tecido enlycrado e com um certo brilho, fiel companheira nas (ex) noitadas (porque agora acabaram) da noite-da-mulher…..’Rausssssss com isso daqui! Queima tudo!, enquanto EU for viva!’
As opções a tomar, perante tamanha punhalada nas costas, são várias:

1- Proibir, (a bem ou a mal) terminantemente e para sempre, tais andrajos (porque na passagem para ‘o outro mundo’ tudo é pesado na balança e é bem melhor pagar tudo neste mundo do que entrar em dívida no outro);
2- Ignorar e resolver qualquer eventual ‘surpresa’ com um ‘Vai indo que eu já lá vou ter’ e não aparecer: a repentina enxaqueca estava terrível.
3- Queimar, estragar, manchar, aniquilar ou dar todo e qualquer artefacto menos agradável aos nossos olhos e aos olhos dos nossos amigos.

P.S. Este texto é válido para versão fêmea, macho, seres andróginos, etc e qualquer semelhança com casos reais não é coincidência.
(Bárbara, amiga, como me compreendes - so private).

quarta-feira, 16 de abril de 2008

'ências'

Simples, difíceis.
Doces, amargas.
Ásperas, suaves.
Duradouras, fugazes.

A vida é repleta de ências.

Intermitências periódicas, cíclicas, alternadas. Interrupções momentâneas e intercalares a espaços curtos ou longos, mais ou menos sofridos, antecipados e ultrapassados. Amo agora para odiar mais tarde e voltar a amar; sofro aqui para curar ali e gemer acolá; rio hoje pelo riso de ontem e hei-de rir mais além; tapo agora o destapado de antigamente e de sempre que me cobre a cabeça e descobre os pés numa luta incerta entre o início e o fim.

Transcendências sublimes e heróicas. Elevadas e grandiosas formas que encontramos para nos engrandecermos em situações desgraçadas ou infelizes. É a excelência que encontramos sem saber que a possuíamos intrínseca e encerrada em nós mesmos, libertada, assim, de forma superior, excelsa e magnificente.

Tendências, não de moda, trapos ou coisas congéneres mas de transformações, mutações e metamorfoses de comportamento não por seguirmos uma moda ou um costume mas porque, a par do revolver e agitar do tempo, crescemos e aprendemos e mudamos e cambiamos uma atitude por outra ainda que o estímulo (bom ou mau) se mantenha inalterável.

Remanências perdidas e achadas. Fiapos, farrapos, retalhos e centelhas. O que sobeja, sobra e resta. O que avulta depois das contas feitas e refeitas. É o excedente que deveria ser sempre categórico e quase nunca o é. Nem tudo o que sobra é bom. Muitas são as vezes que não sabemos o que fazer com esse resto. Quase sempre o guardamos: num bolso, num canto, numa gaveta, num ficheiro, num pensamento. Pode não ter utilidade, mas ainda assim fica abrigado e acautelado para mais tarde renascer numa lembrança ou relação in vitro.

Condescendências faz parte da lista das minhas ências favoritas. É flexível, maleável, dobradiça. A chave para nos acomodarmos e ajustarmos aos outros e às suas vontades, manias e intenções. O caminho certo e genuíno para o bom entendimento, o encontrar sentido naquilo que não faz sentido nos outros, o compreender e entender e conviver e viver bem com isso, o desapertar a mordaça ou a algema que prende e amarra. Aceitar o que não tem que estar pré concebido ou estabelecido. A norma não é a regra e entre dois não há regulamentos, regimes ou leis. Há harmonia, entendimento, serenidade, consonância, melodia, música até.

Inconsistências são os algozes que matam, impiedosamente, a ência anterior. Um dia estamos bem, outro mal: essa será a ordem natural das coisas não fosse o ser humano caracteristicamente inconstante e insatisfeito por natureza. Não falo obviamente dessa inconstância, mas daquela outra que prega rasteiras, é matreira e aparece sem aviso. É doente e por se votar à doença arruína e estraga sem arranjo (que para estas coisas dos sentimentos não há garantias, só responsabilidades). Apresenta-se com laivos de doença psíquica e moralmente perigosa. Está embutida e enclausurada, oportunamente à espreita de deslize, descuido ou descanso da guarda para o ataque final.

Turbulências é tudo o que acontece quando todas as outras ências não se encaixam, entrosam, misturam ou harmonizam. Poucos são os que sobrevivem, num par, a esta rebaldaria. A lista tornar-se-ia interminável.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Frase do dia

'A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como trata os seus animais.'
(Mahatma Ghandi)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A falha

O enigma não está no diz-que-disse, maledicência, calúnia ou trapalhice do embuste em sintonia com a falta de verdade que planta, rega, colhe, almoça, lancha e janta dúvidas de inexactidão e falta de rigor em vida(s) alheia(s).

Com a cusquice, a mordacidade e a má-língua estamos já nós, mais ou menos, habituados, aclimatados e acostumados. É que para a ruindade também se cria hábito ou não fosse o mal-dizer os outros uma usança rotineira e o desporto predilecto de uma boa maioria de pessoas - excitados que ficam como boi picado de mosca que até a língua se lhes enrola e encortiça na sequidão de muita saliva gasta a tagarelar a vida d’outrem e a infectar, poluir e contaminar, com a própria peçonha, a paz dos outros.

A solução é só uma e, ainda por cima, simples: ficar alerta e de antenas no ar (com os cornos não funciona pela sua escassa delicadeza) com o ‘radar’ ao rubro e vigilante para apreender que quando nos começam a tratar mal basta apenas encomendar uma pele mais grossa que sirva de capa a esta mais fina com a qual nascemos e que nem na luta com os UVA’s e UVB’s se safa sozinha!

A verdadeira dificuldade apresenta-se entre os, supostamente, bem-queridos com quem lidamos e vivemos dia-após-dia e com quem não conseguimos falar ou, mais gravoso ainda, comunicar.

Apontar o dedo é simples. Filosofar, então, nem se fala!
A culpa (variada, múltipla e farta – aquela que usamos como disfarce) é do tempo do relógio (porque é sempre pouco, imparável e vitorioso); do tempo lá fora (porque a chuva deprime e o calor apachorrenta); do trabalho (porque nos consome o dito tempo e debilita a tolerância); da falta de amor (porque o egoísmo é muito e nos ensinaram que amar mesmo e a sério PRIMEIRO é a nós mesmos e só depois aos outros); do feitio (porque é sempre boa desculpa para tudo, um excelente réu para o injustificável - distinto carcereiro, carrasco ou executor da má fortuna com sentença desprezível e questionável por ser a mais esfarrapada!), etc, etc, etc…

Vivo numa geração precipitada. Egoísta, desistente, desertora, fugitiva. Detentora de todos os meios emotiva, literária e tecnologicamente falando e, ainda assim, abstémica e evadida. Tudo pacífico, se profundamente conhecesse o sítio para onde pretende ir e o que quer escolher – mas não sabe. Deixa-se levar. É o go with the flow onde tudo parece transitório, provisório, breve e fugaz. Hoje estamos aqui e falamos, amanhã, quem sabe, noutro sítio ou até no mesmo, a tentar ‘comunicar’, mas sem nos entendermos. Geração esquisita, mimada, satisfeita na sua vastíssima insatisfação ou no vice-versa. Pouco lutadora pelo que deve, produtiva no que não deve, adepta do caminho fácil e curto e do atalho sem esforço.
Comparativamente pior que a anterior, em inúmeros aspectos, a minha é a geração ‘rasca’. Da vindoura prefiro nem sequer falar!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Inquietação

O que fazer quando nos desinquietam a alma e vêm bulir connosco em desassossego naquilo que estava sereno, quieto e dormente?
Existem ‘almas’ adormecidas( pensando nós que jaziam mortas e definitivamente carpido o seu incontestável luto) e que ressurgem do nada, para nos realimentar um fogo acreditadamente extinto e que...de repente....está lá. Voltou. Não se apagou. Vive. Revive. Abastece, energicamente, o que pensávamos morto, exangue e enterrado.

É a razão a puxar para um lado. O coração emotivo a pulsar para outro.

É o jogo do rebenta-a-corda (para algum lado há que tombar), da subida-ao-pau-de-sebo (infrutífera e estéril energia gasta para chegar ao cimo e forçosa queda escorregadia que nos traz ao fundo), do pião (que roda e gira em torno de si mesmo e cai redondo e confuso no mesmo sítio), dos dados do poker (é o seis que cobiçamos e é o um que aparece).

Não necessariamente tudo ao contrário ou antagónico do que intrinsecamente desejaríamos. Apenas diferente ou confusa e absolutamente inesperado. Ganha-se e perde-se. Aprende-se com isso - ou não fosse a vida feita de ganhos e ruínas, acertos e desmoronamentos. A verdade é só uma.
Esta sim, inquestionável – TAMBÉM SOMOS O QUE PERDEMOS.

4 de Abril de 2008 (a cara (data) não bate com a careta)

Há oito dias sem net.
Há três dias regressada de férias.
Muito para escrever, falar e desabafar. Gravar testemunhos diários, reais, fidedignos. Passados, presentes e futuros promissores (antes assim do que em devedoras promissórias. Prefiro as promessas cumpridas).

É formigueiro que sinto nas falanges, falangetas e falanginhas. Toda a mão impregnada de uma formigância de escrever. Poderia ser num papel, em madeira, no chão ou em pedra. O rascunho de um testemunho jogado fora ou apagado quando a utilidade do mesmo - a cura para o formigar sentido - fosse finalmente alcançada.

Muito falei, discuti, ‘esperneei’, reclamei, gritei....horas e euros gastos a fio...não há vontade ou Avé Maria técnica que me ouça ou salve e que me conserte a falha de net que transita entre exterior e interior ou o raio-que-o-valha - porque entre quem me atende o telefone e quem vem cá a casa, o marasmo e a inércia são tudo menos promessas cumpridas.

Mas que raio custa aos tipos da TV CABO (sim, são eles!!) arranjarem a merda do cabo, ou linha, ou conexão, ou fio, ou o que quer que seja que me liga ao meu blog. Aquele do qual já sinto saudades e me impregna deste formigueiro manual e cerebral, que me afecta o sistema nervoso central, Kreutzfeld-Jakobiamente falando, e que me deixa desvairada.

Quero deixar a marca e o registo sem ser num papel avulso ou sem ter que escrever e fazer save-my documents-copy-pastes-e-afins em pens, disquetes e merdas do género para depois, finalmente, ‘postar’. Quero garatujar e sentir o texto crescer in loco, sem ter que pedir, pedinchar ou esperar pela net de outrém e poder escrever no sítio que é meu, do qual tenho password, mas não tenho ‘chave’ mestra que permita a passagem para a entrada no ‘meu mundo’.
Não é para ninguém ler, não é para tornar público. É para sentir que está lá, gravado e que existe desvinculado da mente, concretizado, desmembrado e dissecado em letra e a ganhar corpo em texto, ainda que seja em página virtual.

Quem corre por gosto não cansa, dizem os entendidos. De Seca a Meca já fiz o que possível e impossível, já suei até as estopinhas. Resta-me esperar. E como quem aguarda sempre alcança.....alguma coisa há-de surgir (em breve, espero eu!). Enquanto isso, vou ‘mendigar’ a alguma alma caridosa que me deixe escrever o que quero e sinto até que me seja devolvido o ‘leasing’ da chave mestra ‘roubada’ à socapa enquanto o papo se estendia ao sol, em terras de Moçambique. Uma gaja não se pode distrair um minuto que estes gajos vêm atrás das nossas costas faralhar o que estava direito e pô-lo torto. Não há direito.