segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Durante (Parte II)

Algumas saídas, encontros fortuitos e quentes depois, três semanas volvidas e viviam juntos. Bem…não oficialmente, mas ele ia ficando, a escova de dentes a acasalar com a dela no lavatório, a espuma de barbear junto aos tampões para dias de muito fluxo, a roupa interior junto à dela no estendal (e os vizinhos a comentar), os trocos misturados no ‘despeja-bolsos’ à entrada do hall. E, mais tarde, tudo! Os livros, os pertences, a roupa toda, o cd preferido do Barry White, os ténis para o jogging do final da tarde (sim, porque aquele (quase) abcesso abdominal ia ter que desaparecer!).
Davam-se bem. Liam livros a meias ao deitar, cozinhavam a altas horas da noite para alimentar as tórridas maratonas de sexo, eram compreensivos, saudavelmente dependentes, ligavam-se a toda a hora quando longe um do outro, juravam amor eterno na frente de todos. Fazia sentido juntos, tudo parecia pior separados. Muitas flores, presentes e carinhos à mistura. A pressa de chegar a casa só para se verem. Os amigos deixados de lado por não aprovarem e a voz na cabeça da Madalena a concordar com tudo, cada vez mais alta.
O miolo da questão é que ela o amava. O resto não importava. Acreditava no amor do Luís e retribuía de volta. Não se arrependia de nada, mesmo nos dias em que parecia ou pareciam cansados. A vida é mesmo assim. O tempo para amar parece sempre pouco e aparecem sempre coisas pelo meio para nos distrair: o trabalho, a família, os problemas, o distanciamento justificado. Não se ia deixar abater por uns pormenorzitos. Sempre ouvira dizer That’s the way life is. Hoje menos bom, amanhã melhor. O importante era amar e saber que amava mesmo. Afinal de contas, achava que nada podia correr mal.

A chave entra na ranhura da fechadura perra da porta da entrada (a lembrá-la que precisa de óleo há mais de meio ano), uma volta para a direita, escancara-se assim, simples. A Madalena vê a mala. Atrás dela o Luís. Agora, ainda, com o olhar sereno, mas não apaixonado.

Sem comentários: