segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Puré de batata

Descasque as batatas, parta-as ao meio, lave-as e ponha-as a cozer em água temperada com sal. Depois de cozidas, escorra-as e passe-as no ‘pass-vite’. Leve ao lume com uma noz de manteiga, adicione leite, rectifique o sal e mexa, vigorosamente, até obter um puré homogéneo e suave. Prove…hummmm, bolas!, não está no ponto, falta qualquer coisa! Mas o quê? Não me lembro do ingrediente que faz com que o puré tenha aquele gostinho especial.

Há ingredientes que se ‘escondem’ na nossa mente, nestas pequenas ‘receitas’ do dia a dia que supostamente deveríamos saber de cor e na pontinha da língua.

Em relação às pessoas acontece o mesmo. Características e gostos escondidos, porque quase ninguém se mostra a 100%. Pode não ser de propósito, mas simplesmente porque ninguém pergunta e também porque quase sempre julgamos que não há vivalma disposta a ouvir. Era bom que o ser humano nascesse e crescesse legendado. Interior e exterior a descoberto, sem esconde-esconde ou jogo de ‘cabra-cega’.

A minha legenda?
Não gosto que se riam quando falo sério; sou pessimista por natureza; vivo com os meus pais e tenho uma irmã; não gosto de chocolate; sou fundamentalista a favor dos animais; gosto de correr e usar sapatilhas; sou alérgica à penicilina e à mediocridade gritante das pessoas; chá verde é uma das minhas bebidas favoritas logo atrás da Coca-Cola; gosto de bolos de arroz e de acordar cedo; tenho pavor a conduzir e nunca aprendi a andar de bicicleta; adormeço na posição fetal e quase nunca me mexo; adoro a minha mãe mais do que tudo na vida; sinto a falta do meu avô António; sou fã de cinema e de todos os clássicos que me fazem chorar; quando me tocam no sítio certo, derreto-me toda; DMB é a minha banda de eleição; não sou fã de vozes femininas, mas não me importava de acordar todos os dias com a voz da Norah Jones; revolta-me a mentira e a falta de amor; os livros são uma prioridade e a paixão pela escrita de José Saramago também; amo a praia e o sol quente que empurra os gatos para debaixo do tanque; prefiro os finais de tarde a todos os outros momentos do dia.

Pequenas coisas que guardamos para nós. Não nos perguntam. E raramente estamos sensíveis para as interpretar ou reconhecer nos outros. Conhecer estes pequenos pormenores poupava uma grande carga de trabalhos.

Raspa de noz-moscada! Era esse o ingrediente que faltava! O pormenor esquecido para deixar mais saboroso o puré de batata – ‘a cereja deliciosa no topo do bolo’. Como fui capaz de me esquecer dele!

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