domingo, 15 de junho de 2008

Miolo

É profundo o que sinto.
É enorme, está cavado bem fundo, bem lá no fundo. Em palmos ou peso é imensurável, mas em profundeza.....
Tudo o que vivo, transpiro e sinto é mensurável em profundidade. O resto não conta...ou melhor, conta, mas é anexo, apêndice.
O que existe de mais precioso é o que está guardado, cosido e costurado no mais íntimo e recôndito espaço de cada um de nós.
Porquê?
Porque o resto todos vêem, observam, contemplam, analisam, tocam, sem consentimento....o que está de fora, o corpo e os seus movimentos, gritos e atitudes estão ao alcance daqueles de quem gostamos muito, pouco ou mesmo nada. Não tem valor especial, não é distinto, é imitação de comportamento repetido em série vez após vez...
O que é único, específico, exclusivo e ímpar em cada indivíduo só se dá a conhecer a um número muitíssimo reduzido de pessoas: os privilegiados.
É dessas e com essas personalidades que se escreve a nossa vida. São eles que fazem parte dela, a compõem e compreendem. São os actores principais no meio de milhares de actores acessórios, acidentais e secundários.
É aos principais que abrimos a porta da frente e, ao mesmo tempo, a porta das traseiras e todas as janelas, frinchas, entradas, saídas, portões, grades, escapatórias, portagens (as quais, deliberadamente, tornamos gratuitas e sem ingresso obrigatório).

Destas almas tão importantes e oportunas não queremos nós separar-nos. Estão agarradas e são absolutamente necessárias....senão a quem poderíamos nós virarmo-nos do avesso? Quem nos iria aplaudir ou ralhar quando os holofotes da ribalta estivessem para nós virados? A quem haveríamos nós de evidenciar ou ofertar o nosso protagonismo? A resposta é fácil.....para quem gravita em torno de nós, no mesmo palco de partilha da vida, dos sentidos e sentimentos mais inócuos e castos. Neste nosso cenário onde não há distinção entre actor principal e secundário, onde todos escrevem história sem maior ou menor grau de omnisciência ou omnipresença. Quem pisa o palco é conhecedor, participa, escreve por linhas direitas e tortas, vive e revive. O ‘público’ é absoluta e necessariamente o mais desconhecedor, está ali por acréscimo (alguém tinha que pagar o bilhete). Estou-me nas tintas para os seus elogios, louvores, críticas, apupos, vaias ou aplausos. Não é destes que reza a minha história.

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