terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A Cegueira

Venho aqui de passagem só para agradecer ao Exmo. Sr. Fernando Meireles a obra-prima que fez na adaptação para o cinema da obra-prima-mãe que é o livro O Ensaio sobre a cegueira de José Saramago.
Fico-lhe, eterna e inusitadamente, reconhecida (mesmo não conhecendo o Sr. de parte nenhuma!) por ter conseguido, de uma forma perfeita e exemplar, captar o âmago da obra do Mestre literário, (que para mim é) o Excelentíssimo Senhor José Saramago. E tão raras vezes isso acontece! Quem realiza um filme fá-lo, comummente, com uma prioridade - ter sucesso através de reconhecimento fácil, assim como multiplicar, exponencialmente, o capital gasto na realização da película com a venda de bilhetes. Há décadas que o sucesso dos filmes é avaliado pelos valores arrecadados nas bilheteiras e essa valia é tão maior ou mais importante quando é alcançada em tempo record. A audácia que lhe sobrou ao escolher uma 'Senhora-Obra' desta envergadura para traduzir em imagem cinematográfica, escasseou na forma como o filme é, de facto, vertido para o ecrã, sem grande tratamento de imagem ou efeitos especiais e a parecer o que um filme deve parecer…..real!

Foi há uns largos anos que começou a minha paixão pela escrita deste génio e não há outro epíteto possível! Comecei com o Evangelho segundo Jesus Cristo e fiquei maravilhada. A segunda obra que foi imperativo comprar, após ter lido o resumo na orelha esquerda do livro, foi a que deu o mote a este filme. Fiquei siderada, agarrada mesmo até ……. ao fim da minha vida, basicamente. O modo de escrever é tudo menos convencional (e isso agrada-me), mas o mais incrível são as envolventes e sedutoras histórias e narrações biográficas e não-biográficas. Porque isto é que é importante. Que me interessa a mim que um autor saiba escrever de uma forma clara (para isso há os livros de receitas culinárias!) e simples (mais uma vez….a culinária)?! Eu gosto de uma escrita rebuscada, aprimorada, pretensiosamente verosímil. Que nos troca as voltas e o pensamento e nos surpreende. Saramago é genial porque arrisca, não receia, não duvida. Diz, escreve e faz o que pensa. No fim de cada página, capítulo, livro a reacção é sempre a mesma – a sensação de que estivemos a léguas marítimas do desfecho da história e sempre a ‘velejar na maionese’!

Não condeno e até invejo os que nunca o leram. Porquê?
Porque é ancião e já escreveu tudo o que a idade permitiu, os que o não leram têm sorte….ainda o podem descobrir. Já me falta pouco do que dele não li. Mas faço parte daqueles que, por lhe terem tanto apreço e estima, não querem ler o que falta tão cedo a fim de fazer durar tão elevado e excelso prazer. Dos que lhe leram umas palavras e dizem que não gostam ou simplesmente não lêem porque não concordam com as suas ideologias políticas e/ou religiosas….o que posso dizer? Esses, sim, estão cegos e não têm olhos de ler.

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