sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Trabalho para quem merece

Fazem parte do rol dos sítios estranhos os espaços onde a nossa geração trabalha: atrás de ilhas de secretárias separadas por biombos com a responsabilidade de absorverem o som a fim de não incomodar o ‘vizinho’ do lado.

Trabalhamos encobertos e protegidos por portas corta-fogo e paredes blindadas, controlados por um cartão de ponto que regista e inventaria as entradas e as saídas, vigiados por circuitos fechados de vídeo vigilância.
Não vemos o sol, não respiramos ar puro, não temos um bar com um sorriso simpático do outro lado para nos servir o café, - foi, modernamente, substituído por uma máquina que serve péssima cafeína, com sabor a lixívia, a troco de uns caríssimos 0.15 cêntimos, tendo em conta a qualidade da beberagem.

Intervalos e pausas, tempo de Internet e tempo ao telefone – tudo cronometrado e controlado ao segundo. Sistemas informáticos vasculhados a pente fino em busca de um qualquer motivo para uma caça às bruxas, onde tudo o que é suposto ser privado passa a público num estalar de dedos.

‘Grande empresa’ não é sinónimo de ‘grande emprego’ ou ordenado compatível na grandiosidade. A vontade de trabalhar nem sempre é premiada com uma boa oferta ou oportunidade. Muitas vezes, sentimos que não somos reconhecidos ou ‘vistos’, apesar de nos sentirmos observados, por cima do ombro, a cada passo dado.
Vamos pensar que esta vigília ou este controlo é absolutamente necessário da parte de quem (às vezes, sem sabermos ou conseguirmos entender como) assume o comando. Sem esta crença, passaríamos de descontentes a revoltados. Façamos ‘apneia profissional’ e aguardemos (parece-me uma péssima ideia – porque, normalmente, as coisas não mudam tanto) ou ‘saltemos fora’ em busca de algo que nos preencha e compense da forma que merecemos.

Só o 'peixe' morto é que vai com a 'corrente'.

1 comentário:

Unknown disse...

Vai p angola, mas é!!