quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Atraso de mundo

Eu sei.
É tabu. Pschhhhh.
Não se deve (ou evita-se) falar do assunto: racismo.
Instituiu-se, não sei bem onde, que as pessoas tinham raças diferentes e que se distinguiam pela cor da pele: brancos, amarelos, pretos e vermelhos.
A palavra distinção é a mais usada. Quanto a mim forte de mais por vincar excessivamente a diferença ou desigualdade. Já foi, também, dito por aqui, algures, que diferentes...diferentes só mesmo no exterior, pois o Criador de quem tanto se fala, fez-nos (por dentro) iguaizinhos.

Já que levamos com este assunto, desde que eu era um pingo de gente, preciso de dizer que ainda somos, grosso modo, uma cambada de coniventes com as desigualdades (ao invés de aceitarmos que estas diferenças culturais nos tornam, apenas, muito mais ‘ricos’).

Comecemos pelos nomes que damos às pessoas. Ninguém sente constrangimento por dizer ‘o branco, o caucasiano, o Europeu...’, ou por dizer ‘o chinês, o oriental...’, ‘o índio, o indígena...’, mas quando chegamos aos ‘filhos’ ou descendentes de África não sabemos muito bem o que dizer. Evitamos o preto (achamos muito ofensivo e até abusivo – alguns (os escroques) talvez não). Preferimos dizer ‘o de cor’, ‘o escurinho’, ‘o negro’. Se perguntarmos à maioria deles, certamente entenderíamos que preferem ser chamados de pretos, apenas porque foi assim instituído e porque a parte depreciativa que esta palavra tem nas sociedades de ontem, hoje e sempre, fomos nós, ‘bejes’ ,que a criámos.

Falo por mim. Gosto de pretos. Tenho amigos e familiares com esta descendência. Adoro a forma como esta ‘raça’ vive a sua vida. Um povo sofrido, mas alegre, ‘boa onda’ (com excelentes criadores e educadores musicais), lutador e que mais do que nenhum outro, espalhado pelos cinco (continentes) cantos do mundo, teve que conquistar a sangue, suor e lágrimas o tão pouco a que tem direito, hoje.

Melhorámos muito, nós os ‘bejes’. Há uns anos atrás não socializavamos com eles. Fazíamos questão de os ostracizar e ‘perseguir’ nas escolas, nos empregos, nos transportes, na saúde, na televisão, no desporto. Portas abertas para nós e quase sempre fechadas para eles. Oportunismo para nós e falta de oportunidades para eles. Infelizmente, muito racismo anda ainda camuflado. Outro anda às escancaras e ninguém se importa com isso.

Tenho alguns bons conselhos para a sua ‘boa’ sobrevivência ao preconceito instalado na nossa (muitas vezes, vergonhosa) sociedade:
. Não comprem carros muito caros (sobe a probabilidade de serem mandados parar pela polícia por acharem que o carro foi roubado – por vós!);
. Não entrem em lojas com sobretudos ou casacos enchumaçados (é provável que pensem que estão a preparar-se para um assalto ou outra coisa pior – se insistirem nisto, o ideal será andarem nus por baixo da gabardine. Evita o incómodo de terem que ser revistados depois);
. Não frequentem locais muito chiques (é provável que vos atendam mal por pensarem que não têm dinheiro para pagar a conta;
. Casem com um(a) ‘beje’ (assim procriam filhos mulatos (quase ‘bejes’) e difundem a vossa bela raça – um dia estarão em maioria);
. Não saiam à noite (se houver balbúrdia e vocês forem a passar perto, digamos num raio de 10 km, vocês serão os principais suspeitos e ganham o prémio de difusão do vosso retrato robot em revistas, jornais, nos pacotes de leite, esquadras de polícia e na internet);
. Comprem aulas de dicção quando estiverem há pouco tempo num país que não o vosso de origem (evitam juízos de valor racistas, pelo menos, ao telefone).

Obviamente que esta lista é uma aberração e para as pessoas bem formadas é inconcebível, mas infelizmente espelha o que se passa por aí.

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