quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Nó cego

Eu, Nádia-durmo-bem-obrigada, venho aqui para dizer que as pessoas complicam muito. Não eu, não tu, não ele, não ela, mas todos. Tornamo-nos verdadeiros artistas na arte da auto comiseração e do sentir pena, dor ou pesar de nós mesmos.

É verdade que não existe nenhuma lista que nos tenha sido dada quando fomos crianças ou andámos na escola. Ensinam-nos o a,e,i,o,u; o abecedário; o 1,2,3…e o b-a-bá…mas e o resto? Como é que eu me defendo dos outros e principalmente de mim mesmo? Não. Isso, ninguém nos ensina, não está num manual escolar, não há disciplina no currículo da escolaridade obrigatória que se debruce sobre o assunto nem lições pré ou pós pagas que possamos comprar para nos salvarmos. Sim porque é de salvação que precisamos quando nos entregamos de corpo e alma ao sentimento de piedade por nós próprios e alimentamos uma abundância de complicações, dificuldades, embrulhadas e alhadas. O perigo espreita dentro de nós e entre nós. São os secretos segredos, os enredados enredos, os ficcionados bruxedos, os (re)inventados problemas, os cadilhos, atilhos nós e sarilhos, as desalinhadas desordens, os alvoroçados rebuliços, as confusas e cozinhadas trapalhadas, as culpadas culpas e desculpas, os apavorados medos e os receados receios sem direito a pausa, intervalo ou recreio.

Quando, no meio disto tudo, nos esquecemos de nós e dos outros?, - dos que nos rodeiam, dos que importam, dos que nos amam, dos que nos acarinham, dos que nos ajudam - e passamos a pensar mais como aqueles que complicam, agravam, ferem e confundem? Incapacidade humana e quase inata, natural e congénita (porque nunca recebemos ensinança em contrário) de ligar o ‘descomplicómetro’ e viver bem…não na perfeição, com algum caos, mas bem: em equilíbrio, com sensatez, classe, sintonia, harmonia, charme, juízo, brio, ânimo, coragem, bravura, audácia, arrojo e cavalheirismo.

Não basta dizermos que somos bons, temos que sentir que o somos mesmo e prová-lo: a nós mesmos, em primeiro lugar, e depois aos outros que nos ajudam a acreditar. É uma forma bonita de mostrarmos gratidão e reconhecimento a quem nos estima – gostarmos de nós próprios, sem esquecer de demonstrar, também, que somos capazes de prezar os outros. Precisamos desatar o nó cego que tão bem (mal) laçamos e que nos enforca a força de viver numa vida que é sempre curta e minguada para tudo o que desejaríamos.

Se não podemos ser fortes, porém tão-pouco sabemos ser débeis, somos derrotados. A vida, aqui, trata do assunto por nós e não pede conselho, sugestão ou parecer. Se for com o nosso consentimento e consenso, a vida da nossa merda de vida fica abundantemente mais facilitada. Sentirmo-nos invencíveis é uma questão de defesa, sentirmo-nos vulneráveis é uma questão de ataque – tudo reside em pormo-nos a jeito (ou à cautela) nas nossas vivências e desejos, ambições e paixões, pretensões e aspirações. Se dermos luta, ela arreia. Ganhamos nós, ela perde, ainda que nos roube e usurpe muita coisa pelo caminho.

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