domingo, 3 de agosto de 2008

Para além da vida

Josefa Borges, Maria Viçoso, José Costa, Cristina Rodrigues, Juventina Sousa, Dr. Santos Clara Gomes, Virgínia Figueira...nomes atrás de nomes, atrás de entidades e identidades. Homem, mulher, mulher, homem, homem....não importa. Seguidos, ininterruptos, não necessariamente por ordem cronológica, mas lá perto. Enfileirados em mármore ou outro tipo de pedra, com adornos dourados ou menos preciosos, dependendo da sua social importância ou familiar devoção religiosa na crença numa vida pós-morte.

Despertam curiosidade naquele momento. Curiosidade não, talvez atenção. Não porque os conheçamos nem mesmo porque nos tenham passado pela cabeça, alguma vez, mas porque estamos vagos (ou será despertos?) naquele momento. Só tomamos consciência destes rostos quando participamos num episódio destes – um cortejo fúnebre - e ganhamos tempo a olhar os que não são, mas já foram um dia. Os nossos, os dos outros, todos.

Fotografia a sépia, sempre a sépia. Uma após a outra. Todas iguais ou muito parecidas como se o mesmo artista ou fotógrafo as tivesse captado da mesma forma, no mesmo tempo, no mesmo lugar. Não sorriem os rostos. Estão sérios, antigos, envelhecidos, petrificados, fósseis, imóveis. Mais sérios antes na altura do retrato do que agora, no preciso lugar onde jazem extintos. Um prenúncio de morte? Tanta coisa em comum uns com os outros. Desconhecidos em vida, vizinhos na morte.

Flores secas, defuntas, flores frescas, de plástico, naturais ou viçosas em contraste com a morte que velam – todas sinónimo do (des)amor e (des)homenagem que recebem dos seus entes vivos e da falta que estes deles sentem.

Porque a morte dos outros para nós é nada ou quase nada - o que os olhos não vêem, o coração não sente. A perda de quem não conhecemos não nos traz dor, não tira sono, não acarreta preocupação nem prejuízo. Não pensamos nela - nessa morte que não é nossa e nem mesmo circunvizinha. Sabemos que está lá porque é o desfecho natural da vida, ainda que nos tenham ensinado que esta é uma breve passagem para uma outra coisa qualquer (gostava muito de saber porque é que na altura de embarcar nessa forçosa e inevitável viagem queremos tanto agarrar-nos à margem de cá!).

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