quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

(Recém) vida de uma (recém) mãe (recém) solteira

Ainda está fresca numa expectante e feliz memória a imagem de mulher sentada na sanita à espera de um resultado que a medo, muito medo se desejava positivo. Não podia crer que pudesse acontecer-lhe ficar de esperanças assim, tão fácil quando há já tento tempo se mentalizara que poderia amar filhos de outro e nunca um seu a que pudesse ousar chamar ‘de verdade’. Dez minutos depois de testado o fio amarelo escorrido por um pauzinho adivinhatório conseguiria descortinar se o destino lhe reservara o sinal – ou +. Mas quais dez minutos!....um minuto depois apresentou-se um +. Incrédula, leu e releu as instruções. Virou-as de trás para a frente, de cabeça para baixo. Depressa pensou ‘deve ser assim... aparece o +, mas passados dez minutos passa para –‘. Esperou, fumou e, esperou....mais de meia hora! duas priscas mais tarde, resolveu levantar-se da sanita ao mesmo tempo que absorvia a inacreditável notícia....estava GRÁVIDA.

Um turbilhão de emoções afloraram em cada poro, em cada pêlo. Estava apavoradamente feliz. Tanta inveja tinha sentido da irmã, sabedora de uma gravidez sem contar, apenas pouco mais de uma semana antes. A primeira pessoa a quem ligou, inusitadamente, foi ao futuro cunhado. Tinha sido o prenunciador: fora por seu incentivo que, naquele dia, ao final da tarde, de um penúltimo dia de Dezembro , tinha parado o carro, entrado numa farmácia e comprado o amedrontado teste. O que pensar? O que fazer? Parar de fumar isso era certo e tinha que ser já! Contar a quem? E se não for verdade? Queria acreditar que sim. A vida tinha-lhe trazido um presente de Natal tardio....o melhor de sempre. Será que merecia tamanha oferenda nunca equiparada ao incenso, à mirra e a todo o ouro dos magos? Isso!, muito melhor do que isso, trouxera-lhe o menino.

Depois do primeiro choque, a família. Dois netos, dois sobrinhos, dois filhos....e de uma só vez. Que interessavam, nos tempos de agora, as divergências desencontradas do dia a dia, o desacerto de agulhas que nunca deixaram de apontar no mesmo sentido?, acreditava ela. Era o fim desejado, o culminar de um amor nunca posto em causa, independentemente de tudo. Era a felicidade a abraçar uma casa, a confortar e unir uma família fermentada e acrescentada pelo que de mais precioso pode advir de duas pessoas a amar em uníssono: um filho. Não há lexema, língua ou palavras que expliquem. Esperava-se uma exfusiante resposta. Veio em formato comedido, a medo e decidiu entender-se porquê. Traduziu-se, mais tarde, o verdadeiro e indecifrável motivo. Não esperado ou imaginado. Dilacerante. Escreveu assim por ser esta uma narração omnisciente e omnipresente numa primeira pessoa que prefere deixar este texto assim: aberto, esperançoso, cheio de potencialidades, que pudessem sem reescritas e não tenham sido vividas. Assim.

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