terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Vícios

Há de vários tipos. Revelam-se em nós, ou revelamo-nos neles, de várias formas e feitios. Os mais comummente conhecidos ou (ingénua e) socialmente temidos são: o álcool, o tabaco, a droga.
Não existe adicto consciente que não queira livrar-se do vício, algum dia, nalgum tempo, nalgum lugar. Os 'inconscientes' não se querem livrar porque simplesmente não o vêem. A urgência é sentir.

Dizem que o tabaco é prazer. E é. Como fumadora, assumo essa verdade inquestionável, mas sei que faz mal e sei que tenho que deixar. Um dia deixo. Não hoje, não amanhã, um dia. ('Que seja rápido, porque esta nova lei 'do fumo' (justificada pela falta de civismo da maioria dos portugueses, admito) trata-nos como cães ao abandono ou como se tivéssemos o ébola ? parece-me fundamentalismo a mais. Talvez a solução seja começar a mascar o tabaco em vez de o fumar!). Fumo pouco e por prazer. Hummmmm? o prazer. Ora aí está o meu motivo que faz com que seja difícil deixar este vício. Porque é bom, dá prazer, deleite, gozo; pode não dar bem-estar, mas traz satisfação, agrado, aprazimento.
Deixar um vício, qualquer que seja ele, não é fácil. Estamos melhor sem ele, estamos certos disso, mas não o conseguimos ou queremos abandonar. A coisa deteriora-se, em larga escala, se o nível de dependência for muito elevado. Ficamos amarrados e a amarra é forte e hercúlea, por vezes, parece mesmo indestrutível. Desamarrá-la oferece dor, sofrimento, tormento, tortura, abstinência, privação, desamparo, inquietação, degradação, desajuste e até doença. Podemos ser viciados no trabalho, em música, em sexo, em cola, em chocolate, em medicamentos, em jogo, em violência, no perigo, na adrenalina, na cafeína, na morte, no crime, na televisão, em alguém, numa relação (boa ou má).

Procuramos compensações para falhas e conseguimos, muitas vezes, adoptar comportamentos maníaco-depressivos em relação a alguns vícios. Deixamos que estes ganhem vida e vontade sobre nós. Verdadeiros predadores em busca de presa. Tornam-nos impotentes ou, pelo menos, é isso que parece.
Sentimo-nos preparados e capazes de tudo em prol dos mesmos. Esquecemos o mundo e distorcemos a realidade interpretando-a direita quando está torta. Chegamos mesmo a perder o juízo e somos capazes de aceitar ou fazer o inaceitável, tornando-o aceitável (ou vice-versa) na nossa mente e no nosso corpo.

Não raras vezes sabemos que não queremos aquilo, enumeramos na nossa cabeça os motivos, fazemos uma lista, certificamo-nos que está correcta, justificamo-la ponto por ponto, levamos os outros a crerem como nós, decidimos que não queremos e?, depois?, vamos atrás, e aceitamos, e perseguimos, e fraquejamos, e usamos e deixamo-nos ir. É o mal que sabemos que nos faz e o reconhecer que sem esse mal ainda ficamos pior. É a sensação deprimente de que estamos a fazer o contrário do que decidimos e?.não conseguimos inverter, talvez, apenas, subverter! Esta coisa da vontade é mesmo muito relativa. Iludimo-nos num controlo que nunca tivemos, qual marioneta ou joguete na 'mão' de quem manda ou comanda a vida. Ensinaram-nos que o livre arbítrio é 'coisa' nossa, mas, por vezes, não parece nada.

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