segunda-feira, 12 de maio de 2008

Rotinas

Qual é o problema que todos têm com a rotina??

Pergunta que não é retórica. Tem resposta.
Não será a vida feita de rotinas? Sem dúvida.
O dia a dia de todos é hábito, é costume, é prática frequente de um chorrilho de coisas: o acordar, o dormir, o lavar os dentes, o comer, o amar, o brincar, o trabalhar, o pensar, o cuidar, o ler o jornal de Domingo, o espreguiçar na cama e o ver aquele filme ao fim de semana refastelada no sofá, o estar com a família, os momentos com os amigos, o saborear o delicioso café pós refeição e o deleitável cigarro pós coito.

Abaixo o chavão e o lugar-comum de que a rotina tem que ser enfado ou que algo não resulta porque se tornou praxe obrigatória. Cabe a cada um de nós converter a amofinação do que é hábito e costume em prazer e deleite. Procurar consolo, gozo e alívio no que se fez ontem, no que é feito hoje e no mesmo que será feito amanhã. Podemos fazer o que é constante com sabedoria, ciência, erudição até, e versatilidade. A vida é feita de pormenores, isso sim. Coisas pequenas - as quais podemos tornar proveitosas, frutíferas, sinónimos e revelações ou anúncios de prazer.

Quem muito deseja viver no limite e se alimenta da adrenalina premente acaba só e, invariavelmente, infeliz. Quando olha para trás, a vida passou tão rápida e aceleradamente que nem nos lembramos dos pormenores ou das pessoas importantes com quem vivemos (ou que seria suposto lembrar). A vida não se vive melhor no limite do cansaço que causa a procura e a demanda incessante de algo novo, porque se esgota, não é fonte renovável e cansa. Existir assim é viver no limite do inadiável e há tanta coisa que podemos adiar e substituir por outras mais pequenas, mas imensamente proveitosas.

Quero ‘crescer’ bem.
Significa isto que aprendi a gostar das rotinas e não as sentir como fantasmas ou espectros que assombram a nossa humana e transitória existência. Quero a mesma companhia anos a fio. Quero amar o mesmo hoje e sempre, aos trinta. Quero sexo, amor, felicidade e rotineira segurança, aos quarenta. Quero os almoços e jantares em família, aos cinquenta. Quero poder ter o meu kit de roupão e chinelos, aos sessenta. Quero passeios à beira mar de mão dada, aos setenta. E se toda esta longevidade me for permitida, quero fazer, refazer, misturar e repetir tudo de novo, vezes e vezes sem conta.

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